quarta-feira, 30 de abril de 2014

O pensamento mágico

Essa situação acontece comigo tantas vezes que sou obrigado a postar.


Imagem: http://achibuu.blogspot.com.br/2012/10/headache.html

Volta e meia sou obrigado a frear de cantar pneu e ficar só na roda dianteira por uma pedestre que resolve cruzar a faixa como se caminhasse sobre nuvens.

Eu poderia dizer um pedestre, mas na imensa maioria das vezes, é uma mulher que atravessa a faixa como se as coisas do mundo obedecessem a outras leis que não as da Física.


Principalmente aquela de dois corpos não ocuparem o mesmo espaço ao mesmo tempo. Ou aquela da inércia, que diz que um veículo em movimento necessita de tempo para parar, não existe frenagem instantânea.


A pessoa simplesmente resolve que vai atravessar a rua e se coloca a atravessar, os outros que se danem, porque nada vai acontecer com ela.


É o que ela pensa.


Outro dia, uma pedestre estava atravessando a avenida com um desses minitabletefones com câmera no pulso. Seu braço estava em posição de quem estava filmando. 

Ela provavelmente queria mostrar como as pessoas não respeitam a faixa de pedestres, e atravessava a via sem a menor precaução, os motoristas (e pilotos) que se virassem.

OK, a lei diz que o pedestre tem preferência sobre a faixa de pedestres, e os motoristas são obrigados a parar.

Mas provocar deliberadamente um engavetamento para impor o seu direito é um desrespeito ao direito à segurança dos outros.

Sair atravessando sem perder 30 segundos esperando um momento mais oportuno, além de egoísmo, é perigoso, mero capricho, mimimi de adolescente, coisa de revolucionário de butique.

Existe uma coisa chamada bom senso. Pelo menos, antigamente existia um pouco mais de bom senso.

Esse tipo de pensamento mágico, de que a pessoa é invulnerável, de que nada de ruim poderá acontecer, mesmo que não tenha a menor lógica, é uma característica humana que também se manifesta em outras situações.


É o cara (geralmente homem) que faz a ultrapassagem na curva (porque não vai vir ninguém), é o cara que mergulha no rio de cabeça (porque não vai ter uma pedra embaixo da água), é o cara que enche a cara (e sai dirigindo/pilotando).

De certa forma, o pensamento mágico nos ajuda a viver, faz parte da nossa estratégia de sobrevivência. Nos permite uma certa ousadia que move a vida para frente.

Sem uma certa dose de fé, não andaríamos de moto, há riscos suficientes para arrepiar os cabelos de qualquer mãe.

Mas essa fé não pode ser cega e burra.

Atravessar na faixa não garante que você não será atropelado; se vier alguém na curva, não dará tempo de desviar; se houver uma pedra no fundo do lago, você quebrará o pescoço; bêbado, você não conseguirá desviar da traseira de um ônibus parado. 

Postar aqui não vai mudar nada, as pessoas continuarão sendo pessoas e fazendo as mesmas coisas, sem pensar. A vida continua.

Mas ela continuará por mais tempo para quem tomar pequenos cuidados.

Tipo esperar um momento seguro para sair atravessando a faixa de pedestres. Não é possível estancar uma moto ou um carro em dois metros.

Menos pensamento mágico e mais raciocínio lógico, por favor.

Desculpe o desabafo.


Um abraço,

Jeff

PS: Agrego o depoimento do Vinícius sobre esse tipo de atitude:

Pois é Jeff, recentemente assisti uma cena que chega a ser um pouco mais imbecil que esta.

Quando vou ao Poupa Tempo, costumo deixar a moto em um estacionamento mais a frente e do outro lado da rua (pois é mais barato), por pura preguiça de andar mais um pouco, eu atravesso um pouco antes da faixa de pedestre. Enquanto esperava, surgiu um sujeito que simplesmente se jogou na frente dos carros e ainda falou para os demais que esperavam:

"Agente é pedestre, os carro que se lasque, eles que tem que parar."

Isso em um local onde existe faixa e semáforo para pedestres.


Eu mesmo não estava certo, mas pelo menos procurei ter o mínimo de bom senso, afinal, a maior responsabilidade pela minha própria segurança cabe a mim, e do meu ponto de vista, se eu me atirar na frente de um carro, a responsabilidade moral por todo e qualquer dano causado ao condutor é minha.

3 comentários:

  1. Ás vezes fico pensando se não existe uma conspiração cuja meta seja convencer todo e qualquer ser humano a terceirizar suas responsabilidades aos demais, transformando pessoas em completos zumbis conflitantes para então vender correntes de uso obrigatório que separe pessoas de pessoas. Quando pensei nisso pela primeira vez, ainda pensei que o ápice dessa conspiração de imbecilização seria o dia em que pessoas se atirassem voluntariamente na frente dos carros.

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    1. Isso está embutido na sociedade atual Vinicius. A culpa nunca é nossa, é sempre dos outros, do vizinho, do cachorro, do outro carro, das drogas, etc.
      É muito mais fácil botar a culpa nos outros do que olhar para o próprio umbigo e ver nossos erros. Sócrates morreu porque queria mostrar que temos muito mais dúvidas do que certezas, só sei que nada sei :)

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  2. Pois é Jeff, recentemente assisti uma cena que chega a ser um pouco mais imbecil que esta.

    Quando vou ao Poupa Tempo, costumo deixar a moto em um estacionamento mais a frente e do outro lado da rua (pois é mais barato), por pura preguiça de andar mais um pouco, eu atravesso um pouco antes da faixa de pedestre. Enquanto esperava, surgiu um sujeito que simplesmente se jogou na frente dos carros e ainda falou para os demais que esperavam:

    "Agente é pedestre, os carro que se lasque, eles que tem que parar."

    Isso em um local onde existe faixa e semáforo para pedestres.

    Eu mesmo não estava certo, mas pelo menos procurei ter o mínimo de bom senso, afinal, a maior responsabilidade pela minha própria segurança cabe a mim, e do meu ponto de vista, se eu me atirar na frente de um carro, a responsabilidade moral por todo e qualquer dano causado ao condutor é minha.

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