O dono que por pouco não morreu com a moto, ou a fabricante do pneu michelin Pilot Road 4 dizendo que nunca registrou um problema com esse modelo de pneu?
Talvez ambos... e é aí que mora o perigo — um problema nunca ter sido registrado não quer dizer que ele não exista.
Este caso ganhou comentários na internet com postagens de outras pessoas afirmando que essa seria uma tendência desse modelo específico de pneu, talvez um lote deles ou um problema de fabricação da própria michelin...
O original de onde foram retiradas as imagens usadas nos comentários acima é este vídeo aqui deste link. O autor encontra o piloto aos 05:22 e mostra a moto com o pneu dechapado aos 06:10.
Diante da repercussão, a michelin emitiu um laudo técnico atribuindo a falha do pneu ao uso de um acessório da moto...
Press release da michelin: http://www.motorscompany.com.br/noticias/list.asp?id=443
Os técnicos da michelin podem ter elaborado o laudo de acordo com as evidências que encontraram, mas só isso não basta.
A questão é muito séria e, em minha opinião, a investigação precisa ir bem mais a fundo porque há coisas não consideradas.
A alegação da fabricante do pneu foi que um suporte de placa possivelmente teria sido a causa do problema... algo como isto aqui:
Achou?
É aquela peça lá em cima na rabeta, bem longe do pneu — supostamente uma peça desse tipo teria sido mal fixada, se soltado e ficado encravada entre o chassi e o pneu, arrancando a banda de rodagem como se fosse uma espátula.
O site que divulgou essa versão da michelin recebeu vários comentários de descrédito.
É estranho que em vez de vez de fazer um sulco completamente reto, esse objeto cortante tenha acompanhado o desenho em ziguezague da banda de rodagem do pneu, evidenciando o descolamento da banda...
A evidência fotográfica mostra que a banda de rodagem do pneu se descolou totalmente da carcaça, e a carcaça não mostra qualquer sinal de atrito longitudinal com algum objeto.
No entanto, é possível ver marcas transversais na carcaça...
Imagem: Detalhe do vídeo do dono da moto com a denúncia aos 0:18
Seriam esses os indícios de objeto cortante apontados pela michelin?
Só que o laudo fala que as marcas estão na banda de rodagem (a parte descolada) e não na carcaça do pneu...
Essas marcas na carcaça não parecem tão evidentes no vídeo original gravado no momento do acidente...
Imagem: Detalhe do vídeo original do dia do acidente aos 06:13
E por que não vemos em nenhuma das imagens as marcas feitas pelo tal objeto cortante sobre a face externa da banda de rodagem?
Aquelas marcas transversais na carcaça do detalhe do vídeo do dono com a denúncia parecem diferentes — menores — no vídeo original feito na estrada no momento do acidente — elas poderiam ter ocorrido durante o transporte da moto no intervalo entre as duas filmagens?
Foi com o pneu marcado do vídeo gravado pelo dono que os técnicos da michelin trabalharam — eles tiveram acesso ao vídeo original do local do acidente?
Isso pode fazer a diferença entre identificar um defeito de construção do pneu ou uma causa externa posterior.
De qualquer maneira, isso não é o mais importante.
A questão fundamental que a michelin precisa responder de maneira clara para todo mundo é:
Como um objeto encravado entre o chassi e o pneu teria sido supostamente capaz de arrancar uma banda de rodagem perfeitamente vulcanizada da carcaça do pneu?
E da maneira vista nos vídeos e nas fotos, com esse descolamento perfeito, sem deixar mostras de abrasão retas nas bordas da área retalhada?
Press release da michelin: http://www.motorscompany.com.br/noticias/list.asp?id=443
O que é mais fácil de acontecer, um suporte de placa se soltar e ser arrastado para dentro do chassi, arrancando cirurgicamente a banda de rodagem perfeitamente vulcanizada?
Ou essas marcas terem sido feitas pela banda destacada do pneu chicoteando e arrancando o protetor de placa e toda a rabeta, fazendo os pedaços atingirem as costas do piloto devido ao giro do pneu?
É razoável que a banda de rodagem se descole da maneira como se soltou?
Se não foi uma falha de fabricação, que outra causa poderia ter levado a banda de rodagem a se descolar da carcaça?
Rodar com pressão baixa do pneu é uma causa possível — isso provoca um esforço e aquecimento excessivos e pode destruir um pneu.
Podemos ver isso nas estradas, é comum passar por carretas com pneus murchos dechapando.
No entanto, é muito improvável ver isso acontecendo com um pneu de moto....
Imagem: http://motorcycle.michelinman.com/
Num caminhão, um pneu murcho no meio dos dezesseis traseiros passa despercebido, mas na motocicleta não tem como deixar de notar um problema tão grave.
Não vejo como alguém conseguiria rodar tanto tempo com uma motocicleta com o pneu em condição de pressão tão baixa a ponto de causar um estrago tão repentino quanto um descolamento da banda de rodagem...
E o pneu não mostra os sinais típicos de ter sido exposto a uso abusivo com baixa pressão e/ou excesso de carga:
Imagens: http://wingworldmag.com/wing_featured/motorcycle-tires-ii/
Este pneu da foto que perdeu parte da banda de rodagem provavelmente o fez durante um borrachão, em autódromo ou sobre um dinamômetro.
E o pneu da denúncia não apresenta danos junto ao talão, tanto é que nem a michelin recorreu a esse argumento.
Em vez disso, usou a patética alegação de que nunca foi registrado um único caso de pneu michelin desse modelo dechapando.
Ora, esse argumento é simplesmente ridículo.
O que impede que esse seja o primeiro caso específico desse modelo?
Pneus com defeito de fabricação com risco de perda da banda de rodagem não são novidade nessa indústria e muita gente só não morreu por causa de recalls.
Reportagem: http://www.estadao.com.br/jornal-do-carro/noticias/servicos,michelin-faz-recall-de-12-milhao-de-pneus,16198,0.htm
Reportagem: http://www.motonline.com.br/noticia/a-michelin-faz-o-recall-dos-pneus-de-moto-dimensao-dianteira-12070-zr-17-michelin-pilot-power-2ct-e-michelin-pilot-power/
Independente do fabricante — Firestone, Goodyear, Pirelli, Bridgestone, Dunlop, Continental, Metzeler... todas as grandes fabricantes alguma vez já passaram por uma ou outra experiência ruim (algumas gravíssimas) com pneus para motos ou carros.
Por acaso a michelin não ficou sabendo da goma scoppiata do pneu fabricado por ela dechapando na moto do piloto Scott Redding no MotogGP da Argentina em abril deste ano?
Imagem: Detalhes deste vídeo do youtube
A michelin não leu as reportagens na imprensa especializada no mundo todo, até no Brasil?
Reportagem: http://grandepremio.uol.com.br/motogp/noticias/apos-incidente-com-redding-michelin-remove-pneus-traseiros-e-traz-composto-extra-pilotos-terao-novo-treino-livre
As equipes de MotoGP são extremamente cuidadosas com a pressão dos pneus durante as corridas...
E motos de competição nem sequer são emplacadas...
Em compensação, o pedaço de banda descolada do pneu deu uma bela chicotada nas costas do Scott Redding...
Reportagem completa e imagem: http://www.sportrider.com/motogp-tire-woes-in-argentina#page-3
Chicotada muito parecida com a que levou nas costas o dono da moto da denúncia...
Será mesmo que se pode descartar que não houve nenhum problema de fabricação com esses pneus?
Provavelmente nunca teremos outra resposta da michelin, porque essas informações não são reveladas espontaneamente pelos interessados em preservar a imagem de boa qualidade de seus produtos — uma imagem ruim prejudica as vendas.
Em resumo:
A única pessoa que pode garantir sua segurança é você mesmo, inspecionando a condição geral dos pneus antes de sair rodando com a moto.
Não descuide da pressão dos pneus, o risco é muito grande.
E saiba que mesmo que você encontre algum problema no pneu, será muito difícil cobrar a garantia.
Além de ter de apresentar a moto inteira para uma inspeção pela fabricante do pneu (pois é, não adianta reclamar na concessionária, a garantia da moto não cobre os pneus, você terá de correr atrás...)
Você terá de provar que a banda de rodagem se destacou não porque VOCÊ, entre várias outras coisas, foi negligente com a calibragem dos pneus:
Termos de garantia dos pneus michelin: http://www.michelin.com.br/tudo-sobre-motos/mais-info/Como-funciona-a-garantia-dos-pneus-Michelin-para-motocicletas.html
São similares às de todos os fabricantes.
Quem é que consegue provar que calibra os pneus todos os dias?
Ganho de causa tranquilo para os fabricantes.
Tentar apontar a origem do problema para um suposto acessório mal instalado soou estranho e implausível, mas não seria a primeira vez que a indústria recorre a argumentos eventualmente contestáveis.
Mas se todas as vezes que suspeitas sobre a qualidade de um produto forem respondidas com laudos técnicos controversos e justificativas aparentemente mais preocupadas em não causar prejuízo aos acionistas do que em pontuar os fatos, a credibilidade do fabricante que recorre a essa prática ficará extremamente prejudicada.
A relação consumidor / fabricante se baseia na confiança.
Seria bom que os marqueteiros das empresas se preocupassem mais com a verdade dos fatos, e na conscientização dos riscos envolvidos na pilotagem, e que os blogueiros e a imprensa tupiniquim não divulgassem press releases dos fabricantes sem exercer o mínimo de senso crítico.
Nossa segurança ganharia muito com isso.
Um abraço,
Jeff
Jeff, não estou defendendo a Michelin, mas já li em algum lugar o comentário de um piloto dizendo que no autódromo as motos andam na velocidade máxima por poucos segundos durante cada volta e que na rua tem certas pessoas que andam um bom tempo numa grande reta na estrada na velocidade máxima da moto o que aquece demais os pneus mesmo pneus de motos esportivas o que pode causar estouro ou talvez a decapagem do pneu como o do vídeo.
ResponderExcluirTenho 2 amigos tbm que tiveram problemas com pneus Pirelli, um deles tinha uma Ninja 250 que teve 2 Diablo Rosso II traseiros estourados e o outro tem uma CB500X que na primeira viagem estourou o pneu traseiro Scorpion Trail ambos são motociclistas que não abusam da velocidade. Foi acionado a Pirelli que disse se tratar de mau uso do pneu.
Isso é muito grave, Deivisson!
ExcluirIndicaria que os pneus não são adequados para a condição de uso das motos... as fabricantes não se preocupam em fabricar motos que não excedam a velocidade máxima permitida, e no entanto seus pneus não poderiam rodar conforme a velocidade máxima que seus projetistas determinaram? Algo está muito errado nisso.
Os fabricantes estariam colocando em suas motos pneus que não se prestam a fazer aquilo que suas motos têm plena condição de rodar?
Está havendo um subdimensionamento? Como entregar ao mercado motos capazes de chegar a mais de 300 km/h, se os seus pneus não aguentam rodar mais do que poucos minutos nessas condições? Em que parte do manual do proprietário é alertado que a velocidade máxima da moto só pode ser mantida durante um determinado limite de tempo em função da velocidade?
Além disso, no caso em questão a estrada em que ocorreu o acidente não permite manter velocidades assim altas, basta ver o vídeo do momento do acidente, é uma estrada secundária, nenhuma Bandeirantes ou mesmo Fernão Dias.
Caso os pneus instalados realmente não aguentem rodar em uma condição plenamente possibilitada pela motorização da motocicleta, estamos diante de um escândalo tão grave quanto aquele que vitimou tantos proprietários e famílias nos automóveis dos anos 50/60/70. Há uma postagem muito interessante sobre isso:
http://www.curbsideclassic.com/automotive-histories/how-gm-nickled-and-dimed-americans-to-death-part-1-undersized-tires/
Talvez seja interessante fazer um paralelo, pesquisar e aprofundar ainda mais esses casos...
Isso poderá resultar em descobertas bastante interessantes.
Um abraço,
Jeff
Ótima colocação Jeff, penso da mesma forma que você.. Infelizmente a fabricante sempre tira o dela da reta e procura sempre alguma forma de culpar o cliente.. Lamentável.
ExcluirJeff, lembra do barulho da minha moto na primeira partida do dia? Então, descobri qual era o problema, mandei fazer a abertura do motor.. O problema era o guia da corrente de comando, ele tava prendendo, era até duro pra voltar ele com a mão.. ele ficava muito colado na corrente de comando, não só guiava ela como chegava a pressionar já que tava travado, quando a corrente girava os poucos segundos com apenas a pelicula de óleo, fazia o barulho dela batendo no guia.. Enfim o problema foi resolvido!
E vi que a moto ainda chegou a sofrer com o óleo 10w30 do antigo dono.. O pistão já tava até numa situação feia, aproveitei e já fiz a troca do kit clindro.. Moto tá perfeita agora!
Valeu Jeff
Obrigado pelo retorno, Kaio!
ExcluirAprendi mais essa. A única moto com comando no cabeçote que eu tive foi a Edith, e tive que me separar dela com meros 10 mil km, não deu tempo de vivenciar uma experiência de desgaste do tensor da corrente de comando.
Quanto às fabricantes... quanto mais informação eu recebo, mais inconformado eu fico.
Um abraço,
Jeff
sempre achei essa situação errada,de vez dos caras correrem atras da verdade eles correm atras mesmo de tirar o seu da reta me lembrou ate o cara da coca cola com rato.
Excluiruma pergunta relativa ao vídeo numero 1, onde a moto está na caçamba da caminhonete,
ResponderExcluiro que que tem a ver ele mostrar o estrago do pneu com cortar giro com a moto?
Me fiz a mesma pergunta...
ExcluirUm abraço,
Jeff
Tema ver com a raiva... cada um reage de uma forma... pensei que ele ia desconectar a moto do veículo e jogá-la no chão... Mas preferiu destruir um pouco o motor... É como se a moto o tivesse agredido, apesar dele entender que a culpa é da fabricante de pneus.
ExcluirÉ verdade, o cara estava com muita raiva. Afinal, quase morreu de graça.
ExcluirUm abraço,
Jeff.
se fosse eu iria abraçar a moto e chorar kkkk
ExcluirQuanto ao argumento utilizado pela Michelin, é pura aplicação de defesa montada por Advogado da Empresa, onde em nome do "grande conhecimento técnico e da ilibada reputação da Empresa", apresentam explicações técnicas, imputando a culpa ao proprietário do veículo. Ainda por cima, fazem uma exaltação do produto como sendo de "alta tecnologia" pois "Se a carcaça não fosse feita de aramida (o mesmo material utilizado em coletes à prova de balas), a mesma teria estourado e incidente poderia ter resultado numa fatalidade."
ResponderExcluirÉ patético, pois aqui no Brasil estes argumentos funcionam muito bem em um tribunal, principalmente quando há uma Empresa poderosa ($) envolvida, pois lá atrás dos panos, eles (os advogados de acusação e defesa) combinam tudo, mas tudo mesmo.
Graças a Deus o piloto não morreu, apesar do ferimento nas costas (que poderia tê-lo aleijado, pois atingiu a região da coluna). Apenas ferimentos leves.
Sigo a mesma lógica do Jeff, pois a moto (também o carro) quanto mais simples, melhor.
Abração e que Deus nos abençoe todos os dias nesta vida.
Olá, José Carlos!
ExcluirNunca me conformei com o absurdo de o MPF recusar investigar as duas denúncias contra a dafra, o primeiro sobre os chassis se partindo ao meio e o segundo sobre o manual recomendar colocar quase 30% menos óleo do que o devido. Motos se partindo ao meio e motores estourando pelo país inteiro, essas evidências foram refutadas com o discurso "a dafra é uma empresa séria".
Pelo menos, teve a utilidade de abrir meus olhos para o fato de que a mesma prática é exercida por praticamente todas as fabricantes, apenas a dafra foi flagrada de maneira mais escancarada no ato.
Um abraço,
Jeff
tirou todas as palavras da minha boca Jose(ou dedos), sinto vontade de adquirir uma moto mais potente mas quando começo a pensar em todos os custos e possíveis custos me contento em ter minha magrela que me leva pra cima e pra baixo, ta legal ta bom pra que correr mais? o básico já me faz muito feliz tamo junto! que Deus sempre esteja conosco.
Excluir(É aquela peça lá em cima na rabeta, bem longe do pneu — supostamente uma peça desse tipo teria sido mal fixada, se soltado e ficado encravada entre o chassi e o pneu, arrancando a banda de rodagem como se fosse uma espátula) isso (resposta da michelin )seria impossível. como uma peça dessa se soltando na velocidade que a moto estava seria jogada para frente? so uma pessoa com problemas para acreditar nessa historia para boi dormir.
ResponderExcluirTive um caso semelhante em uma Zx10 também. Um perito contratado por mim viu evidências de mal funcionamento do pneu. Já o perito nomeado pelo judiciário alegou que algum objeto externo fez com que a banda de rodagem se descolasse (placa?) ou algum burn-out. Meu pneu era zero, ainda tinha os "pelinhos", e não tinha marca de "borrachão". Enfim.. perdi o processo e tive prejuízo com os custos de tudo. Além de ter de pagar o estrago na moto. Mas agradeço por não ter caído e morrido por causa de um pneu que descolou.
ResponderExcluirObrigado pelo depoimento!
ExcluirAs empresas se beneficiam do preceito jurídico "em dúvida, pró réu", e passam ilesas pelos processos.
Nunca admitirão que vendem pneus prometendo resultados inalcançáveis em condições reais, ou sujeitos a problemas de fabricação. Não existe um órgão auditor independente para fiscalizá-las.
Um abraço,
Jeff
A propósito, leia a postagem http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2017/03/porque-pneu-de-esportiva-dechapa-tao.html
ExcluirLá tem novidades sobre o assunto com outro caso de pneu dechapado, dessa vez da pirelli.
Eu de novo,
Eu