sexta-feira, 1 de setembro de 2017

A kawasaki tomou juízo, a bmw ainda não aprendeu a lição

A kawasaki do Brasil tomou juízo quanto ao intervalo de troca de óleo recomendado, enquanto a bmw ainda não aprendeu uma dura lição...

O triste é que essa lição será tomada com gente se machucando e se dando muito mal por conta de uma política de vendas totalmente errada.

Não se negligencia a segurança em motocicletas.

Usar como argumento de vendas 10 mil km sem manutenção do óleo do motor — denunciado na postagem de ontem — colocará a vida de muita gente em perigo.

Quem está há mais tempo no mercado brasileiro já percebeu que a coisa por aqui é séria e diferente do resto do mundo, e já tomou atitude para livrar a própria cara. 

Lembra daquela postagem sobre os 12 mil km da troca de óleo das kawasaki?
Imagem: Postagem http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2017/04/os-12-mil-km-da-troca-de-oleo-da.html

Conforme alertado pelo leitor Sergio Brunner, que me enviou a imagem abaixo e a quem agradeço muito, a kawasaki do Brasil não embarcou nessa onda de 12 mil quilômetros para troca de óleo da matriz.

O pessoal no Brasil teve o bom senso de determinar a troca de óleo com a metade da quilometragem recomendada lá no exterior:

O manual brasileiro recomenda a troca de óleo e do filtro de óleo a cada 6 mil km, e não os absurdos 12 mil km determinados no Japão.

Mas são 6 mil km mesmo?

Não.

Você leu as letras miúdas da observação nº 2?

"Efetue o serviço (troca de óleo e filtro de óleo) com mais frequência quando pilotar a motocicleta em condições severas: regiões com muita poeira, úmidas ou lamacentas, pilotagem em alta velocidade ou com partidas/paradas frequentes."

Ora, essa é praticamente a condição de pilotagem de todas as Ninja, na estrada ou em trânsito urbano... que outra condição existe?

Aliás, é a condição de pilotagem de praticamente qualquer motocicleta...

Fora disso, só aquelas motocicletas que ficam sempre no mesmo lugar:
Imagem: http://www.bellecityamusements.com/our-midway/

Na prática, a kawasaki do Brasil está falando sem dizer para fazer a troca do óleo e filtro a cada 3 mil km...

Ou seja, reduziram de 12 mil km para 6 mil km, mas se você não quiser ter problemas, troque o óleo e o filtro de óleo a cada 3 mil km...

Enquanto isso, a bmw usa como argumento de vendas o "óleo mágico" para 10.000 km sem manutenção...

"Maior economia com menor custo de troca de óleo."

Onde foi que já ouvi isso antes?

Ah, lembrei!

A honda começou com essa história do "óleo mágico" para 3 mil, depois 4 mil e agora 6 mil quilômetros usando como argumento de vendas a maior economia de manutenção.

Deu no que deu para as motos pequenas de arrefecimento a ar e a ar/óleo CB 300, XRE 300, Titan, Fan, Bros... 

Jogaram a imagem da honda lá no chão, tiveram que trocar os motores, e nem assim os problemas acabaram porque foram potencializados pela adoção de um óleo inadequado para o Brasil.

Pelo menos a kawasaki caiu na real e teve o bom senso de se adequar à realidade nacional.

Fato:

Os proprietários brasileiros não se ligam em detalhes de manutenção e não repõem o óleo consumido.

Aliás, nem medem o nível de óleo da moto.

Quando medem o nível de óleo, sempre medem do jeito errado, sem ligar e desligar o motor, conforme foi ensinado nas concessionárias... ops!

Caramba, as concessionárias ensinam errado uma coisa tão importante, né?

As montadoras deviam prestar atenção nisso, está fazendo muita gente estragar o motor com baixa quilometragem e até correr risco de vida nas estradas...

Mas o fato é que o pessoal da kawasaki sabe que a turma usa as motos para chinelar no fim de semana, e sabem perfeitamente que óleo velho com nível baixo pode dar uma grande колбаса, tanto é que publica em todos os seus manuais:

Mais cedo ou mais cedo ainda, a bmw também vai descobrir que usar como argumento de vendas um óleo que aguenta 10 mil km sem manutenção não compensa.

Os proprietários leigos interpretarão "sem manutenção" como "sem preocupação de repor o óleo consumido" — o que colocará a vida dos usuários da moto em perigo.

O artifício de dizer que "proprietários que percorram longas distâncias poderão ter de trazer as motocicletas para revisão antes da próxima data programada" — na prática, a cada 5.000 km — não funciona no Brasil.

Os proprietários rodarão 10.000 km sem nem mesmo conferir o nível de óleo. 

Motores começarão a estourar ainda este ano, mais tardar em janeiro de 2018, anote o que estou dizendo.

Os riscos envolvidos não só para os usuários — que verão seus motores travarem e estourarem em alta velocidade na estrada — como para a imagem da marca e seus produtos, não compensam as vendas iniciais.

Pelo visto, a kawasaki do Brasil já descobriu. Mas suas concessionárias continuam entregando as motos da revisão sem óleo suficiente... 

Muita gente vai dançar graças a essa política de vendas totalmente errada da bmw.

O negócio é rezar para ninguém morrer por conta disso.

Um abraço,
Jeff

15 comentários:

  1. Esta tática de óleo long life, vitalício etc, só serve para prejudicar o consumidor. Os câmbios automáticos que equipam a linha Renault dizem que o óleo é vitalício, porém sabemos que o óleo degrada e é contaminado pelos detritos gerados pelo desgaste de peças móveis e discos de fricção. Imagina como fica o corpo de válvulas e os solenoides dentro desse câmbio.
    Em resumo, o cliente acaba tendo que arcar com um prejuízo de mais de R$ 10.000,00.

    Um abraço!

    Dan

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    1. Disse bem, Daniel!

      Óleo vitalício. Para as fabricantes, se os clientes jogarem fora as motos com 30 mil km está mais do que bom.

      E é o que a maioria dos proprietários faz, vende logo a moto para se livrar dos problemas que irão acontecer.

      O abacaxi sobra para o segundo dono da moto, que nunca reclama porque não tem a quem reclamar e pensa que teve azar, quando na verdade a moto (ou carro) foi entregue ao primeiro proprietário já com a obsolescência programada para quilometragens baixas.

      Ontem mesmo respondi um comentário naquela postagem sobre óleo 0W-20 nos carros da honda.

      O proprietário de um Civic estava todo feliz da vida porque o carro dele sempre usou 0W-20 e já estava com "incríveis" 120 mil km....

      Depois que parei de dar risada, expliquei para ele que alta quilometragem em motor de carro é 1 milhão de quilômetros e o encaminhei para a postagem da revista 4 Rodas:

      http://quatrorodas.abril.com.br/noticias/dez-carros-que-acumularam-mais-de-1-milhao-de-km-no-hodometro/

      E continuo dando risada.

      Mas o quadro triste é que a moçada não tem noção dessas coisas e engole sem cuspir o que as fabricantes despejam goela abaixo deles.

      Por aí está cheio de dono de moto todo arrogante porque a moto chegou a 70 mil km sem retífica... já ouvi bosta (desculpe, mas é bosta mesmo) de dono de moto que chegou a 30 mil km, e olha que não foi só um não.

      Um abraço,
      Jeff

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    2. Lá no IFSC temos 2 motores que eram dos veículos de uso da instituição que ao chegar no fim do seu uso devido a renovação de frota, foram retirados dos seus respectivos carros (2 partis) onde os motores tinham 800.000 km e 1.200.000km (e estavam em perfeito estado quando foram abertos e analisados), ainda estão lá sendo usados na aula prática dos alunos.

      Um abraço!

      Dan

      Ps. A Cocota tem um pouco mais de 120.000 km originais ;-)

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    3. Valeu, Dan!

      Para quem não sabe, a Cocota é a dafra Speed prateada do Dan. Quando morei lá pelos lados de Floripa, o Daniel me emprestou a Cocota enquanto ele trocava o câmbio da Jezebel.

      Foi por termos comprado motos dafra e termos participado do fórum de proprietários que surgiu essa amizade que até hoje une o pessoal dos WD±40...

      WD vem de Wild Dogs e Wild Dogs vem de Wild dafra Owners Group, uma brincadeira com os HOGs da harley.

      No nosso caso, éramos wild por conta da raiva que passávamos com a montadora... hehehe...

      Forte abraço, Dan e leitores!
      Não vou assinar porque todo mundo já sabe que fui eu quem escreveu.

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  2. Oi Jeff, creio eu que o problema maior dessa questão toda sobre os manuais de proprietário seja o nosso baixo nível intelectual. Veja que 70% dos alunos formados em nível superior são analfabetos funcionais. O caso é grave mesmo. Acho que as fabricantes sabem disso e acabam se aproveitando dessa ignorância generalizada. Cabe a nós fazermos a nossa parte alertando a todos que pudermos. Forte abraço!

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    1. Olá, Takashi!

      É exatamente o que penso!

      Outro dia tive oportunidade de conversar com um engenheiro da área que já trabalhou em montadoras de automóveis aqui na região do ABC.

      Ele é da área de motores, e repetiu o discurso padrão:

      "Você mede o nível de óleo pela manhã com o motor desligado."

      Confrontei ele com a informação de que há muitos anos os manuais de proprietário dos automóveis e motocicletas mandam fazer a medição depois de ligar o motor, e ele insistiu que nunca se deve ligar o motor... apesar de o manual mandar ligar o motor.

      Esse é o tipo de "perito especialista" que seria chamado para um processo na justiça contra as montadoras.

      Além da lavagem cerebral de décadas, ainda existe o analfabetismo funcional e a incapacidade de raciocinar fora da zona de conforto.

      "Se todo mundo faz o errado, então o errado deve estar certo."

      E la nave va...

      Um abraço,
      Jeff

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  3. Bon dia Jeff!
    Queria saber se retificar o motor da moto é uma boa ideia, a relação potência x consumo será a mesma?
    E qual a durabilidade de um motor retificado?

    Abraço!

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    1. Olá, Maicon!

      Retificar o motor é tipo a última coisa a fazer, só recupera a potência de um motor extremamente desgastado ou conserta um motor fundido.

      É um processo relativamente suave, um "lixamento" feito com máquina para garantir a precisão da retirada de material.

      Mas cada vez que você retifica o motor, não tem volta, e existe um pequeno número máximo de vezes para fazer isso.

      Como o diâmetro do cilindro, anéis e pistão é pouquinha coisa maior, há um ganho mínimo de potência, pouco significativo.

      A durabilidade após a retífica será aproximadamente a mesma do motor original, já que as condições pouco se alteram.

      O que o pessoal faz para ganhar potência é usinar o cilindro em um torno, arrancando muito mais material do que na retífica, aumentando a cilindrada.

      Depois de alargar a cavidade do cilindro, aí fazem uma retífica para garantir a superfície lisa necessária para o deslocamento dos anéis de do pistão.

      Isso não é recomendável porque o motor funciona com explosões, milhares delas por minuto.

      Você terá explosões mais fortes na parte de cima, e a mesma resistência mecânica nos mancais na parte de baixo que recebem o tranco de todas essas explosões...

      O que acontecerá mais cedo ou mais tarde será a carcaça trincando e vazando óleo, quando não estourando de vez, porque ela não foi projetada para explosões mais fortes do que aquelas para as quais foi criada.

      Tem até uma piada do Luís Fernando Veríssimo, ele tinha um carro com o motor tão "envenenado", como se dizia na época, que o coitado morreu na mão dele...

      Um abraço,
      Jeff

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  4. Jeff é pq minha cg 150 as vezes fumaça um pouquinho, mais não baixa óleo. Fui no mecânico e o serviço fica 250 tudo.
    troca pistão, anéis, retentores de válvulas, e as juntas, originais.
    Depois da retifica o motor não fuma mais Jeff?

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    1. Olá, Maicon!
      Depois de uma retífica bem feita, e também da troca dos retentores de óleo das válvulas no cabeçote, o motor volta a trabalhar com folgas próximas das originais de fábrica.

      Mas se o seu motor está bom e está apenas fumando sem baixar o nível de óleo, experimente primeiro mudar de marca de óleo, porque tem marcas que fumam mais do que outras.

      Se ele fuma somente na partida e depois para, isso é normal, não é motivo para retífica. O motor frio ainda não atingiu as folgas normais de funcionamento, e por isso a fumaça.

      Se essa fumaça for bastante a ponto de baixar o nível de óleo, trocar os retentores das válvulas não envolve retificar o motor.

      A retífica é sempre uma operação de risco e não se mexe em time que está ganhando.

      O ajuste das peças do motor não volta a ser o mesmo, você precisará fazer um novo amaciamento, há grande chance de aparecerem vazamentos nas juntas, sem contar o risco de pegar um mecânico lambão que enfia silicone onde não deve e entope as galerias de óleo, fazendo o motor fundir de verdade...

      Tem mecânicos desonestos que cobram por uma retífica e apenas trocam esses retentores, um serviço muito mais rápido e barato, em algumas motos dá para fazer sem retirar o motor do quadro.

      Avalie bem se a retífica realmente é necessária, e boa sorte com sua moto!
      Um abraço,
      Jeff

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  5. Jeff quais primeiras impressões vc teve usando oleo 25W-60?

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    1. Para o meu motor, o 25W-60 foi ótimo.

      Diminuiu o consumo de óleo e o motor ficou redondo, também diminuiu a fumaça.

      Esta semana trocarei novamente o óleo e vou colocar um pouco de militec, o que coloquei em Santa Catarina já perdeu o efeito depois de quase 2 anos.

      Eu gostaria que meu motor durasse muito mais, mas como a dafra me vendeu um filtro original que não filtrou nada porque veio descolado, não tenho mais a mesma expectativa de antes.

      Detalhes na postagem http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2013/10/a-incrivel-falta-de-controle-de.html

      Fui com ele para Santa Catarina e rodei uns 10 ou 15 mil km, imagina quanta poeira ele deixou passar...

      Um abraço,
      Jeff

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    2. Nossa, falei 2 anos, mas agora conferi, já são 3 anos... se bem que ela praticamente não rodou por muito tempo enquanto eu estava com a Edith e depois quando fiquei doente.
      Eu de novo,
      Mais uma vez

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  6. E esses oleos de carro nao afetou o desepenho da embreagem?
    qual o melhor o shell ou castrol?
    quando acabar os óleos que tenho,irei usar um desses 25W-60 na minha cg, e ver o resultado.
    Abraço

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    1. Negativo, a embreagem continua boa depois de muitos milhares de km.
      E olha que troquei somente os discos de cortiça quando morava em Biritiba em 2011... lá se vão 6 anos, os últimos 3 anos com óleo 25W-60 (dos quais 2 anos rodando e praticamente 1 ano parada).

      Tanto faz o castrol quanto o shell. Comecei com o castrol Alta Quilometragem, é bom, mas é mais difícil de achar, em compensação aqui em Santo André tem um posto shell em cada esquina.
      Abraços,
      Jeff

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