quarta-feira, 19 de abril de 2017

Moto saindo pela tangente no alto do morro e primeiros socorros

Lembra daquela postagem de setembro do ano passado?

Aquela onde eu falo que motos em alta velocidade perdem o contato com o solo e saem em linha reta em uma curva no alto de uma elevação?

Esta postagem aqui, ó:
Postagem: http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2016/09/moto-morro-abaixo-e-moto-morro-acima.html

Apareceu um vídeo ótimo que mostra isso acontecendo com uma Hayabusa — uma moto pesada — e o drama de se acidentar no meio do nada.

Essa fogueira foi tudo que restou da moto — ainda bem que o piloto sobreviveu em condições de ser hospitalizado:
Imagem: https://www.youtube.com/watch?v=iXSvQxiQYOY

Infelizmente, o autor não permite embutir o vídeo aqui no blog. Deve ser mais um que não sabe que reproduções do vídeo aqui contariam como visualizações para ele...

Então você terá que ir até o youtube neste link para assistir o vídeo

Note logo aos 0:40 a subida intensa e a curva no alto dela — e como a moto seguiu em linha reta porque o piloto perdeu totalmente o controle.

"A mudança de trajetória mais a diminuição da aderência por causa da mudança de inclinação da pista fazem a moto em alta velocidade perder o contato com o solo."

Para saber mais detalhes sobre esse tipo de acidente muito comum com motos esportivas, mas que também pode surpreender o piloto em motos menores, leia a postagem Moto morro abaixo e moto morro acima quando quer sair de banda ninguém segura.

E quanto ao socorro ao piloto acidentado?

Vítimas de acidente não devem ser movidas, EXCETO quando expostas ao risco de queimaduras, sufocamento, intoxicação, afogamento ou outro risco maior no local do acidente.

Fraturas agravadas pela necessidade de remoção eventualmente podem se recuperar, desde que não causem uma hemorragia intensa — mas queimaduras graves tendem a ser fatais.

Então é questão de avaliar a situação e agir de imediato diante da escala de gravidade dos ferimentos.

Afaste uma vítima com traumatismos do local de um incêndio somente pela distância mínima necessária.

Considere que o calor também causa queimaduras à distância por radiação térmica, e não só por contato direto com as chamas.

E como você viu no filme, o fogo pode ficar mais intenso e se alastrar rapidamente.

Na hora de mover a vítima, faça isso imobilizando o pescoço e cabeça da melhor maneira possível e puxando pelos ombros / sovacos em linha reta na direção da coluna.

Uma pessoa desmaiada não segurará o peso da cabeça, evite que a cabeça se movimente durante o transporte.

Esta foto mostra uma técnica usada pelos bombeiros que ajuda a não movimentar muito o pescoço:

Passar uma cinta pelos ombros (na verdade, sovacos) da vítima para puxá-la...
Imagem e treinamento de bombeiros (em inglês, use o tradutor do google): http://www.fireengineering.com/articles/print/volume-164/issue-9/features/techniques-for-removing-victims-from-the-fire-building.html

Outra técnica para esse transporte:
Imagem e treinamento de bombeiros (em inglês, use o tradutor do google): http://www.fireengineering.com/articles/print/volume-164/issue-9/features/techniques-for-removing-victims-from-the-fire-building.html

Dificilmente você terá uma cinta numa emergência dessas, mas as fotos servem para mostrar como a tração pelos ombros / sovacos ajuda a manter cabeça e pescoço relativamente imóveis, evitando agravar uma lesão que pode causar uma paralisia permanente ou morte.

Puxar a vítima pelos antebraços poderia agravar uma fratura ali existente. Você correria o risco de ficar com os braços dela pendurados nas mãos e sangue esguichando para todos os lados, cena de filme de horror. Você não quer isso.

Puxar a vítima alinhada com o eixo do corpo minimiza a chance de agravar fraturas e causar novas lesões.

É sempre preferível aplicar esforços no sentido de alongar a vítima do que dobrar qualquer parte de seu corpo. 

Nunca tente carregar nos braços uma vítima de politraumatismo — todo movimento com tendência de fazer o corpo dela se dobrar irá agravar as lesões.
Imagem: https://br.pinterest.com/wredants/batman-and-superman/

Você só faz isso quando tem certeza de que não há nenhum osso quebrado, tipo uma pessoa que desmaiou pela fumaça em um incêndio em uma casa* — mas nunca um acidentado de trânsito.

*E ainda assim, somente depois de se certificar de que ela não bateu a cabeça ao cair, porque isso é suficiente para lesionar o pescoço.

Remoção do capacete, somente se estiver atrapalhando a respiração da vítima — e com o máximo cuidado para não movimentar o pescoço.

Aliás, a primeira coisa a fazer depois de afastar a vítima das chamas é se certificar de que ela está conseguindo respirar.

Não adianta salvar alguém de um incêndio para deixá-lo morrer com o capacete ou a dentadura tampando sua respiração.

Não dê água para a vítima — ela poderá se engasgar e a água nos pulmões irá complicar muito a situação no hospital.

É uma cortesia que pode resultar em uma pneumonia fatal — melhor esperar que o pessoal do resgate aplique soro na veia.

Nunca tente sentar a vítima, nem tente fazê-la ficar de pé ou andar — ossos trincados poderão se quebrar totalmente e cortar artérias ou perfurar pulmões e outros órgãos.

Se houver uma hemorragia grave, trate de contê-la senão a vítima morrerá antes da chegada do socorro.

O resgate na cidade não leva menos de 10 minutos, e no meio do nada pode levar horas.

Há outras postagens falando sobre este assunto nas abas "Como agir em acidente" e "Como agir em emergências". 

O índice de abas só fica visível na lateral direita da tela quando o blog é aberto em um computador desktop.

Um abraço,

Jeff

12 comentários:

  1. EXCELENTE POST JEFF! MAIS UMA VEZ! O mais frustrante de tudo isso é que 90% dos acidentes seriam evitados se não houvesse excesso de velocidade. Placas e placas alertam o motorista, que não as vê porque está preocupado com a adrenalina. Inclusive, essa semana estava em um rodovia que não possui morro, mas requerer atenção na constante mudança de limitação de velocidade. Vi um fiat uno com a traseira completamente amassada, quase acabada. Quem bateu? Um rapaz de moto, que certamente vinha em velocidade mais alta. O rapaz estava estirado no chão, de sandália, sem proteção alguma e sem o capacete, porque o mesmo voou. O mais curioso disso tudo, é que me falaram que o capacete cortou o pescoço dele, e tiveram que colocar um pano para estancar o sangramento. O rapaz estava vivo até ali, mas me lembrei do blog imediatamente: O excesso de confiança em estradas e rodovias aparentemente vazias pode ser fatal!

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    1. Obrigado, Danilo!
      Puxa, o capacete cortar o pescoço dele? É algo que um capacete de boa qualidade não faria, mas que não seria colocado à prova se o piloto não estivesse abusando da velocidade...
      Para um capacete se danificar a ponto de se quebrar e cortar o pescoço, o impacto teria de ser muito violento, e impactos muito violentos nem o capacete consegue salvar.
      Há limites para tudo, e infelizmente muitas pessoas só descobrem isso quando ultrapassam um limite sem possibilidade de retorno.
      Um pano não estanca sangramento, apenas oculta a visão das pessoas enquanto vai se encharcando.
      O certo seria usar as mãos, de preferência usando um saco plástico para não ter contato direto com o sangue, para obstruir da melhor maneira o sangramento.
      E um detalhe que você disse e me chamou a atenção:
      Além do abuso da velocidade, talvez ele não tivesse se acidentado se estivesse usando calçados apropriados em vez de chinelos... eles podem ter escorregado da pedaleira na hora em que ele tentou frear, resultando no acidente.
      Um abraço,
      Jeff

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    2. Sim Jeff, justamente! O capacete não me parecia de boa qualidade, e apesar do corte do pescoço do rapaz, não estava jorrando sangue. Provavelmente o corte não foi tão profundo, mas não poderia ser menosprezado. Referente à sandália, infelizmente aqui em Belém é muito comum pessoas não usarem proteção, é quase cultural. Não é dificil você ver pessoas descalças pilotando, enquanto as sandálias estão penduradas no guidão. Entendo que o clima aqui é muito quente, mas os motociclistas daqui têm tendencias quase suicidas. Uma pena.

      Abraço Jeff!

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    3. Olá, Danilo!
      Não é só Belém não, aqui no meu bairro é a mesma coisa, e estou do lado de São Paulo, onde a fiscalização é mais rigorosa.
      O grande perigo de cortes no pescoço é que não precisam ser profundos, as artérias que levam sangue para o cérebro passam muito perto da pele.
      Não é à toa que a cinta que prende o capacete também recebe o nome de jugular, exatamente o nome dessas artérias. Um corte com 5 mm de profundidade no lugar certo já chega nela.
      Um abraço,
      Jeff

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  2. Oi Jeff,beleza? Se voce ainda não tiver ( o que eu duvido), dá uma olhada neste vídeo,que tem muita imagem útil para voce ilustrar suas matérias.
    https://www.youtube.com/watch?v=F4lAXQRmwRw
    Aquele abraço!

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    1. Muito obrigado, Pedra!
      Era o que estava faltando na postagem sobre o motor trabalhando sem óleo, já incorporei lá!
      Um abraço,
      Jeff

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  3. Excelente Blog!!!! Descobri recentemente quando estava pesquisando sobre oleo de moto e vi o post de como medir corretamente o nivel do oleo! Esse post também excelente, uma duvida no post fala que só deve remover o acidentado em ultimo caso, poderia ser considerado perigoso caso esteja na pista(mesmo que estiver sinalizado), e levar até o acostamento?
    Gostei muito mesmo do seu blog, parabens!!!

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    1. Obrigado, Rafael!
      São mais de 1000 postagens, espero que encontre muitas informações úteis!
      Sobre a remoção do acidentado, essa é uma decisão difícil de tomar.
      Tudo é questão de avaliar o risco real em cada situação.
      Nunca é recomendável remover o ferido, mas há várias situações em que a situação pode exigir.
      Por exemplo, um acidente logo após uma curva poderá não conseguir ser bem sinalizado. Há várias ocorrências de acidentes secundários envolvendo as equipes de resgate, mesmo com viaturas com giroflex e cones no local.
      Em locais com óleo espalhado na pista certamente ocorrerão novos acidentes.
      A primeira preocupação de quem socorre deve ser com a própria segurança, e somente depois com o acidentado. Então sinalizar o local é a primeira medida a tomar. Avaliar os riscos para prestar o socorro e a necessidade de remover a vítima com os meios à disposição (que geralmente são inexistentes) é a segunda medida a ser tomada. Somente depois de avaliar se conseguirá remover a vítima para o acostamento sem você ser atropelado é que poderá tomar essa decisão. Muita gente morre na tentativa de salvar uma vítima de acidente por agir com precipitação.
      Então cada caso precisa ser avaliado com base na situação, nos riscos, nos recursos disponíveis e no conhecimento e experiência prática dos socorristas. Toda remoção é um risco de agravamento de lesões, mesmo com imobilização adequada feita por paramédicos. É realmente uma decisão difícil que precisa ser tomada muito rapidamente.
      Há outras postagens falando sobre o assunto nas abas "Como agir em acidentes" e "Como agir em emergências". O índice de abas só fica visível na lateral direita da tela quando o blog é aberto em um computador desktop.
      Um abraço,
      Jeff

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  4. Uma coisa que também se deve enfatizar é o seguinte: ao passar por um acidente, percebeu que a vítima já recebeu socorro, vaza! Não fique olhando feito bocó, tirando foto com celular e atrapalhando o trânsito.

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    1. Olá, McGyver!
      Bem lembrado, muitos acidentes secundários acontecem porque o pessoal reduz a velocidade ou para completamente para ver o acidente.
      Inclusive na pista oposta, é uma atitude temerária. Motoristas reduzindo podem causar nossa colisão atrás deles, motociclistas reduzindo podem ser atropelados por motoristas e outros motociclistas desatentos.
      Sempre sobra pra nós.
      Abração,
      Jeff

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  5. "A mudança de trajetória mais a diminuição da aderência por causa da mudança de inclinação da pista fazem a moto em alta velocidade perder o contato com o solo."
    Jeff, às vezes nem isso. Pequenas imperfeições no asfalto (assim como areia ou pedriscos) podem fazer com que os pneus percam a aderência.
    Abraços.

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    1. Olá, Luiz!
      É verdade, basta um buraco ou um pouquinho de areia, e já era. Tem várias postagens falando sobre isso, mas eu abordei este assunto especificamente porque é algo que muita gente não percebe.
      O cara se entusiasma quando tem a rara chance de rodar sobre um tapete e não se prepara para entrar em uma curva ou finalizar uma subida.
      Não espera que isso aconteça e o resultado é o que acontece no vídeo e naquela outra postagem que mencionei no texto. Mesmo com uma moto pesada como uma Hayabusa, uns 230 kg com combustível e óleo.
      Um abraço,
      Jeff

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