Tropeço nº 3: a perigosa regulagem da corrente de transmissão...
Imagem: Manual da haojue Chopper Road 150 com link encontrado no site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/
O procedimento está muito errado, e cria uma situação perigosa.
O ajuste correto da folga da corrente de qualquer motocicleta é feito com alguém do mesmo peso que você sobre a moto ou, se a garupa for companhia frequente, você e sua garupa sentados sobre ela.
Só que isso é muito raro de se ver escrito nos manuais de proprietário... por que será?
Se você ajustar a corrente da moto para uma folga de apenas 10 a 20 milímetros sem peso nenhum em cima da moto, conforme o especificado por eles...
... na hora em que você (e sua garupa) se sentar(em), essa pequena folga desaparecerá completamente por causa da mudança da geometria da suspensão.
Para você ter uma ideia do quanto essa folga é insuficiente, motos equivalentes pedem 20 a 30 mm de folga na corrente, e nas mesmas condições sem ninguém em cima — e isso já é pouco...
A folga da corrente é necessária para a suspensão traseira se movimentar sem retesá-la.
Rodando sem folga, sua corrente sofrerá um esforço muito maior que o normal e será esticada fortemente a cada buraco e lombada.
Isso irá reduzir a vida útil de toda a relação (corrente, coroa e pinhão) a 1/4 de sua vida útil, ou menos.
Você será obrigado a comprar peças novas e originais com intervalo de poucos meses — esse desgaste não é coberto pela garantia, é considerado "normal" pelas fabricantes.
E ainda existe a grande possibilidade disso causar a quebra do eixo do pinhão em curto prazo (um ano) por excesso de esforço repetitivo (fadiga do metal)...
Esse reparo do eixo também não será feito em garantia — provavelmente ele se quebrará assim que a garantia acabar.
E mesmo que quebre antes, alegarão mau uso da moto ou passagem por buracos, que você não terá como provar que não ocorreram, e isso não é coberto pela garantia.
Não queira imaginar o custo de trocar o eixo do pinhão, você perderá o sono — envolve remover o motor do chassi e abrir a carcaça inteira.
Pior é o risco de vida:
Perder totalmente a tração da moto na frente de um caminhão pode ser fatal, então esse procedimento de regulagem com folga mínima e insuficiente é... irresponsável.
Tropeço nº 4: as informações desencontradas sobre os freios
Vale a pena aproveitar a figura da postagem anterior para comentar o procedimento destacado em laranja quanto à inspeção dos freios:
"Acione ambos os freios para ver se estão flexíveis"???
Que пузырь é essa?
É mais um erro grosseiro de tradução.
O que deveria ser dito é para verificar se os freios parecem esponjosos, verificar se ao acionar a alavanca e pedal eles cedem lentamente.
Se você aciona um freio hidráulico e a pegada não é firme, isso indica a presença de ar na linha de freio.
Ar é compressível, fluido não é.
Isso significa que, na hora em que você precisar acionar o freio em uma emergência, a bolha de ar lá dentro da linha do freio diminuirá de tamanho, mas não fará força sobre as pastilhas de freio.
Sua frenagem será muito mais fraca e em vez de parar a moto em 10 metros, só conseguirá parar em 20 metros.
Ou seja, encherá a lata do carro na sua frente.
Do jeito que está, o texto pode ser entendido como uma preocupação com o ressecamento das mangueiras.
O envelhecimento natural causará a perda de sua flexibilidade ao longo de anos.
Não é um assunto para preocupação imediata.
Mas uma falha inesperada por um defeito qualquer, seja por problema de fabricação, erro de montagem, tombo besta ou desgaste natural, pode acontecer até no primeiro dia de uso da moto...
Então verificar a eficácia de atuação dos freios todos os dias faz muito mais sentido do que se preocupar com sua "flexibilidade".
E é isso que deveria ser enfatizado no manual, mas não é.
A necessidade de verificar os freios todos os dias não está sendo explicada para a imensa legião de novatos que terá a Chopper Road como sua primeira moto.
A informação fundamental omitida no manual é:
O que você tem de conferir, seja qual for sua versão da moto, seja com freio hidráulico ou a tambor, é se os freios estão agindo com eficiência na hora de parar a moto.
Tropeço nº 5: a trollada em cima dos primeiros proprietários...
Por que a Chopper Road fala em mangueiraS de freio, se usa o freio traseiro a tambor e só tem uma única mangueira de freio?
Porque existem duas versões da moto, uma com freio traseiro a tambor e outra com freio traseiro hidráulico, e a maneira como a segunda versão foi lançada pegou muito mal.
Meses (ou você prefere contar em semanas?) depois de lançar a Chopper Road com freio a traseiro a tambor, a haojue passou a vender a moto com freios a disco dianteiro e traseiro de acionamento hidráulico de ação combinada, a tal Chopper Road CBS.
O que deixou os compradores iniciais revoltados:
Para quem comprou a moto na versão inicial, verificar se "os freios estão flexíveis" não faz sentido.
Já quem teve a sorte de pegar o modelo novo, não tem do que reclamar.
Freios hidráulicos são infinitamente superiores aos freios a tambor, e com a versão combinada, acredito que eliminaram a tradicional "rabeada que leva para o chão" das obsoletas motos com freio traseiro a tambor.
Amanhã vou abordar a questão do óleo do motor e porque as informações passadas no manual sobre esse assunto podem colocar a vida dos ocupantes em perigo.
Até lá e um abraço, menos ao pessoal envolvido nessa literatura técnica,
Jefferson
Fala, Jeff, tudo bem? Não tenho feito comentários mas você sabe que não perco uma postagem aqui no blog!
ResponderExcluirPior de tudo é que, como você, eu também gostei da moto. Tava vendo ontem e ela aparenta mesmo ser mais robusta e vistosa que o que vemos normalmente nessa categoria, traz novos ares para o mercado de Intruders e Kansas, mas pelo jeito com as mesmas pegadinhas agora agravadas pelos erros de tradução. De qualquer forma, pra quem já tem alguma experiência com checagens e manutenção diária, e cuidar do nível de óleo, não deve esperar nenhuma surpresa tão grande... Ou será que ela vai se partir no meio como as Kansas ou as Himalayan?
Talvez o melhor seja esperar pra ver se o modelo "pega" e comprar depois de haver algum histórico...
Abraço!
Olá, Péricles!
ExcluirNão acredito que a Chopper Road tenha problemas estruturais.
Tanto a suzuki Intruder quanto ela saem das mesmas linhas de montagem da haojue na China, e a Intruder nunca teve problemas.
O pessoal pensa que a Intruder é feita no Brasil, mas ela vinha da haojue completamente desmontada e só recebia poucos componentes nacionais, como pneus, bateria e mais algumas peças secundárias.
Até onde sei, o quadro e o motor sempre vieram da haojue da China, você pode comprar tranquilo.
Sobre o problema do aço das Himalayan e Kansas, a Intruder nunca mostrou essa fragilidade. Se o projeto do quadro tem margem de segurança suficiente, ele não apresentará problemas.
A qualidade do aço é sempre uma incógnita a que todas as montadoras estão expostas, mas acredito que depois desses casos exemplares envolvendo a royal e a siderúrgica japonesa, todas elas ficarão mais atentas para inspecionar a qualidade dos lotes de aço recebidos.
Não encontrei nenhum relato no exterior sobre problemas com essa moto.
E o principal motivo das postagens é porque não quero ver essa motinho tomando o mesmo rumo das Kansas, uma boa moto detonada pela incúria da empresa responsável por ela.
É por isso no meu blog o nome da moto sempre vai em maiúsculas e o das montadoras em minúsculas.
Motos têm alma e não merecem passar por situações como essa dos 800 ml de óleo, é injusto com elas.
Um abraço,
Jeff
Esqueci de dizer:
ExcluirA haojue é a montadora das motos pequenas da suzuki na China, assim como a hyosung era a montadora da suzuki na Coreia do Sul.
Sim, me esqueci que a Chopper Road é prima das suzukis... Aliás, estou mais do que satisfeito com minha GSR125, sem dores de cabeça até o momento. Acredito que compraria outra da mesma marca tranquilamente.
ResponderExcluirJeff, por falar em manutenção, uma questão sobre a qual eu gostaria da sua opinião: com que frequência é recomendável fazer a troca de óleo da suspensão dianteira? E qual óleo devemos usar nessa troca? Tem alguns próprios pra isso, mas não sei se são apenas rótulos diferentes só pra vender mais caro...
Perguntei pro mecânico e ele disse que não precisa ficar mexendo ainda, mas você acha que a manutenção preventiva nesse caso vale a pena?
Abraço!
Olá, Péricles!
ExcluirFiz essa manutenção na minha quando ela chegou a uns 50 mil km, e agora perto dos 100 mil estou sentindo a necessidade de fazer novamente. Com o tempo você nota que o garfo não amortece mais como antes.
30 mil km era a propaganda da cofap para recomendar a troca dos amortecedores de carros, e evidentemente forçava a barra para antecipar a troca.
Em compensação, é o tipo de serviço que eu sempre adiei por motivos de força maior. No caso, menor...
Talvez 40 mil km seja o número mágico.
Um abraço,
Jeff