Ele mostra e explica o estado de um motor de honda CG 150 cujo proprietário não leu o manual (ou se leu, leu por cima) e acreditou na conversa do óleo e não imaginou que ele sumia do cárter (ou se esqueceu de conferir mesmo).
Parece que ele acreditou que o óleo maravilhoso permitia rodar 4 mil km sem se preocupar com o nível nem repor o óleo.
Em uma moto nova a coisa demora um pouco mais para aparecer. Mas em um motor rodado, a coisa vira um vapt-vupt.
Deu no que deu:
Parabéns ao mecânico do canal Duas Roodas (não descobri o nome dele) — merece ganhar muitos clientes por atitudes como essa.
As imagens não ficaram muito evidentes para quem não conhece as peças em estado de novas, mas eu explico.
O que ele quis mostrar é que aquelas peças ou estão muito riscadas ou estão com folgas irrecuperáveis por desgaste excessivo.
Isso não tem jeito, só trocando peças muito caras e que estão à venda somente na concessionária.
O tensor da corrente é feito de plástico que suporta grande quilometragem trabalhando em temperaturas elevadas, mas só até um certo limite, precisará ser trocado em uma revisão preventiva. Talvez aos 50 mil km, não tenho certeza.
Ele se resseca e se desgasta com o uso, mas se ressecará e se desgastará muito mais rápido se o motor trabalhar em temperatura anormal devido ao pouco óleo.
Peças riscadas enfraquecem o motor porque não permitem boa compressão antes da explosão, parte da energia da explosão vaza para o cárter em vez de empurrar o pistão.
Peças com riscos e desgastadas aumentam o atrito interno do motor, roubando energia que iria para as rodas e transformando em calor.
Mais calor evapora o óleo ainda mais rápido e é por isso que você precisa conferir o nível e repor o óleo cada vez com mais frequência quanto mais rodada for a sua moto.
Fazendo uma economia besta você cairá que nem um pato por não cuidar direito do seu motor.
Sim, economizar míseros 20 reais de óleo pode te custar bem mais do que 1.000 reais em um conserto...
Pode até colocar sua vida e a vida de sua garupa em perigo, porque a quebra de um pistão pode travar o motor junto com a roda traseira ou estourar a carcaça e vazar óleo na frente do pneu, aí é tombo certo.
Segue foto mostrando vários estágios de desgaste do pistão para você visualizar melhor.
Imagem: http://www.laskeyracing.com/shop/breakin.htm — O site da Laskey Racing é especializado em preparação de motores e fornece algumas dicas interessantes para quem gosta de mecânica automotiva.
Os pistões acima mostram o que acontece em um motor funcionando com aquecimento excessivo.
Imagem: http://xlforum.net/vbportal/modules/Jig/index.php |
A saia (parte de baixo do pistão) se dilata mais que o esperado e acaba atritando com a parede do cilindro, deixando riscada sua superfície perfeitamente usinada.
Nem sempre dá para retificar ou trocar só a camisa (o revestimento interno do bloco do cilindro — nem todo motor usa camisas substituíveis).
Aí a bobeira fica ainda mais cara.
Essa parede do cilindro originalmente não apresenta nenhum risco vertical, é quase espelhada.
Todo motor com o uso acaba riscando o cilindro, e o principal causador disso são as partículas em suspensão no óleo usado presas aos anéis do pistão. Daí a necessidade de trocar com boa frequência para não deixar acumular uma quantidade excessiva de sujeira dentro do motor.
Mas o aquecimento que chega a dilatar a saia do pistão acelera muito esse processo, porque as partículas presas entre o pistão e o cilindro e a sua própria superfície em contato direto atuarão como uma lixa a quase 10 mil ciclos por minuto.
E o aquecimento adicional resultante desse atrito aumentará ainda mais a temperatura, podendo fazer o pistão se derreter, o famoso "fundir o motor".
Riscos verticais permitem a passagem de óleo do cárter para a câmara de combustão onde ele é queimado, vira fumaça e desaparece do cárter.
O processo de sumiço do óleo é cada vez mais rápido quanto maior a quilometragem da moto. E é por isso que a garantia dura apenas o tempo suficiente para esse desgaste e consumo excessivo de óleo não se tornarem evidentes e chegarem a dar problema.
Normalmente dá certo, os pipocos estouram só na mão dos clientes. Mas aí você junta um óleo 10W-30, concessionária colocando só o mínimo de óleo e proprietários levados a pensar que o óleo é mágico para durar 4, 5 ou 10 mil km, além de uma picaretagenzinha nova que descobri e que estou investigando para uma nova postagem suculenta, e você tem o quadro atual de clientes chutando moto na porta das concessionárias...
Note que o site da Laskey informa que os danos nos pistões mostrados na foto ocorreram por mistura excessivamente pobre (pouca gasolina em proporção ao ar aspirado pelo motor), o que provoca aquecimento e dilatação excessivos do motor.
Mas o aquecimento e dilatação excessivos com sintomas de desagste praticamente idênticos também ocorrem quando o óleo não lubrifica adequadamente o cilindro.
E ele não cumpre sua função ou porque está muito fino por atingir uma temperatura mais elevada que a prevista, ou porque já começou com uma viscosidade muito baixa...
Mesmo que a mistura esteja bem proporcionada, problemas ocorrem por causa do uso de pouco óleo no cárter (dificultando o resfriamento do motor) e do uso de um óleo de uma viscosidade baixa que diminuirá ainda mais porque o motor está se aquecendo mais do que deveria...
A soma dessas duas é a pior condição possível para o motor.
E é isso que você, a concessionária ou a oficina fazem quando colocam apenas a quantidade recomendada pelo fabricante sem atentar para o nível do óleo e você não descobre por fazer a medição do jeito errado amplamente divulgada que eu vivo denunciando.
Mesma coisa quando não repõe o óleo consumido porque acredita que está usando um óleo mágico supermegapower que permite rodar metade do Brasil sem se preocupar com o nível dele. Afinal, o vendedor falou que valia a pena pagar mais caro porque o novo óleo oferece a melhor proteção para garantir a longa vida do motor, não falou?
Não caia nessa, a propaganda diz uma coisa e a realidade é outra.
Se você não cuidar direito da sua moto fiscalizando o trabalho das concessionárias desde a entrega da moto e em todas as revisões, ou da oficina a cada troca de óleo, e se não inspecionar e repor o óleo consumido conforme necessário, você dança e dança bonito.
PS: A postagem sobre descarbonização, flush e eliminação de borra foi transferida para amanhã devido a este vídeo enviado pelo Pedra Veloz. Agradeçam a ele!
Um abraço,
Jeff
Eu não economizo nem mais um centavo na manutenção da minha motoca. Ela só me agradece. Na revisão de segunda-feira (05/12/2016) ela foi toda desmontada (menos motor), lubrificada apenas onde precisava (em alguns locais a graxa ainda estava azulzinha, como se tivesse sido aplicada a poucos instantes), troca do óleo e da lona de freio dianteira. Nem óleo das bengalas baixou. Custo total de peças e mão de obra: R$185,00 que ainda pude parcelar de 3x. Cheguei em casa com ela, adicionei mais 300ml de óleo e + 50ml de Militec. Infelizmente não achei o Motul 20w50 ou 15w50 que queria experimentar nela, então acabei continuando com o 5100 10w30. Sexta (09/12) pego estrada com ela e tenho certeza de que a viagem vai ser uma delícia !
ResponderExcluirEssa postagem sobre descarbonização, flush e eliminação de borra, eu não perco por nada. É exatamente o que eu planejo fazer no motor da minha talvez na revisão de 56.000km ou 60.000km.
Abraços !
Olá, Marcelo!
ExcluirSó não se esqueça de conferir o nível a cada 300 km.
Se não me engano sua viagem não será assim longa, mas você vai viajar garupado, o que exige mais do motor.
Sua moto está com 52 mil km, uma quilometragem em que o consumo de óleo já aumenta por conta do desgaste normal das peças, e está usando óleo 10W-30 que desaparece mais rápido do cárter, não se esqueça disso.
No seu lugar, eu daria uma conferida antes de iniciar o retorno da viagem pelo menos para ver se o nível permanece na marca de máximo, mesmo que o motor não esfrie completamente.
Um motor aquecido com o óleo no máximo indica que ele estará aproximadamente no mínimo quando for medido com o motor frio. Nunca rodei com esse óleo, me baseio no consumo de óleo que observei na minha moto em viagens.
Um abraço, e boas viagens,
Jeff
Boa noite jeff!
ResponderExcluirSe troca-se o óleo, 10w30, pelo 10w50. Seria mais o correto para as motos ? Pelo clima tropical em que vivemos, compensaria o prejuízo que o 10w30 faz ?
Olá, Louis!
ExcluirSempre defendo que 50 é melhor do que 30 para o clima de nosso país, Aliás, a própria honda dizia isso até adotar o 10W-30. Ontem o Furlani comentou em um vídeo que o 10W-40 é melhor que o 10W-30 para proteger o motor. Para quem tem receio de partir para uma viscosidade 50 por achar muito elevada, é uma alternativa interessante, nem que seja como primeiro passo rumo a migrar para o 10W-50, 15W-50 ou 20W-50.
O número junto ao W não tem significação para uso em nosso clima porque temperaturas abaixo de zero são raríssimas.
Um abraço,
Jeff