A descarbonização pode ser feita apenas com produtos químicos solventes — sem abrir o motor.
E também por limpeza e lavagem com escova após a remoção e desmontagem do motor durante um reparo de grande monta, como a troca de peças do câmbio ou de serviços no cilindro/pistão.
Qual a origem desse carvão?
Carvão é carbono, carvão é o resíduo sólido da queima de materiais orgânicos.
Cumé? Material orgânico dentro do motor?
Sim — como foi dito naquela aula chata de Química em que você estava no facebook com os amigos, toda substância que tem carbono em sua composição é material orgânico.
Gasolina de verdade (não a nossa) é composta exclusivamente por grandes moléculas formadas de carbono + hidrogênio, assim como o óleo lubrificante é feito de moléculas ainda maiores e longas mais aditivos diversos. E é por isso que os lubrificantes são mais densos e viscosos que a gasolina.
Imagem: Wikipedia - Moléculas de gasolina pura (sem álcool) (à esquerda e centro) e um aditivo não usado no Brasil à direita |
Imagem: Wikipedia - Molécula de etanol |
Imagem: Wikipedia - Molécula de celulose |
Yes, tem madeira. Especificamente, cortiça.
Cortiça é a casca de uma árvore, o sobreiro ou corticeira.
Imagens: Pesquisa no google
Os discos de embreagem de motos populares são feitos de cortiça prensada e só aguentam o tranco porque trabalham em banho de óleo.
Imagem: http://www.masada.com.br/disco-de-embreagem-kit-cg125-fan-ml-titan-125-kansas-150-nxr125-bros-scud-p3908/ — Imagem ilustrativa, não conheço nem produto nem fabricante. |
Calor por tempo prolongado queima a cortiça — embreagens desreguladas queimam e desgastam a cortiça muito rapidamente. Daí a necessidade de manter o cabo da embreagem sempre bem regulado.
Todo material orgânico queimado vira principalmente carvão, gases (nitrogênio, CO e CO2 na forma gasosa e oxigênio e hidrogênio livres ou na forma de chama) e vapor de água.
Sobram outros resíduos de contaminantes como enxofre, fósforo, silício abrasivo, etc. em proporções bem menores.
De onde vem o carvão nos motores?
Há três tipos:
O carvão residual da queima do combustível, o carvão residual da queima do óleo e o carvão residual da queima por atrito dos discos de cortiça da embreagem.
O carvão que não é eliminado pelo escapamento na forma de fuligem acaba se acumulando e formando uma crosta seca sobre a superfície da cabeça do pistão e faces do cabeçote e válvulas da câmara de combustão.
Imagem: Dr. Daniel operando Jezebel
Já o carvão que se deposita sobre a superfície oleada do cilindro se mescla com o óleo e acaba se unindo aos outros dois tipos, todos contaminando o óleo do motor — é por isso que ele fica preto depois de algum tempo de uso.
Lá ele também se junta às partículas de aço, alumínio e bronze resultantes do desgaste normal do motor e essa sopa fica circulando dentro do motor até que as partículas maiores sejam retidas pelo filtro. Ou não. Daí a importância de usar um óleo de viscosidade adequada para minimizar o desgaste do motor.
Essa sopa encorpada de óleo sobre superfícies muito quentes como o interior do cabeçote acaba sendo queimada e forma uma crosta ressecada meio úmida de óleo chamada borra. Daí a importância de não rodar com pouco óleo, ele ajuda a esfriar o cabeçote.
O óleo não totalmente queimado forma uma gosma melequenta que tende a se acumular nos locais de alta temperatura e baixa velocidade de circulação do óleo.
Se a gosma for mais sólida do que melequenta, ela será chamada de laca — geralmente a laca aparece nos dutos de admissão de mistura por evaporação do combustível.
Imagem: Vídeo do Furlani
Quanto mais tempo o óleo permanecer dentro do motor, maior a tendência de ele se decompor e formar borra e gosma. Daí a importância de não obedecer os intervalos de troca absurdos recomendados pelos fabricantes.
Crostas, borras, gosmas e lacas são formas de carbonização do motor, se bem que o termo seja mais utilizado para falar da carbonização seca do interior da câmara de combustão. Falo mais sobre carbonização nesta outra postagem.
No vídeo da última postagem você viu que o motor daquela CG 150 tratada em concessionária precisou fazer uma lavagem interna (flush).
Só para comparação, aí vai de novo a foto do motor da Jezebel aos 62 mil km sempre rodando com óleo mineral trocado na hora certa:
Imagem: Foto tirada pelo Daniel quando trocou o câmbio da minha Kansas 150, mais detalhes nesta postagem.
Qual a diferença entre essa lavagem interna e a descarbonização do motor?
Os dois irão retirar o carvão do motor, mas a descarbonização se refere ao carvão acumulado no pistão e câmara de combustão, enquanto a lavagem interna com solvente desengraxante remove o carvão (borra e goma) do cárter, superfície interna do cabeçote e galerias de óleo.
Esse óleo de limpeza com desengraxante precisa ser muito bem removido, então o ideal é não precisar recorrer a esse recurso extremo.
A lavagem interna sempre apresenta o risco de não remover todas as crostas e borras na primeira troca de óleo.
Essas coisas enfraquecidas pela primeira lavagem podem se soltar de repente e circular dentro do motor, vindo a entupir o filtro de óleo, o filtro de tela e principalmente a entrada da bomba de óleo, fazendo o motor se fundir. Daí ser preferível não deixar a borra se formar do que ser obrigado a usar produtos químicos para sua eliminação — mas no caso da moto do vídeo de ontem, não tem outro jeito.
E o que fazer para que a lavagem interna e a descarbonização não sejam necessárias?
Usar um bom óleo de viscosidade adequada no nível correto (não somente a quantidade insuficiente recomendada) para evitar as borras de óleo.
E usar gasolina aditivada para evitar a carbonização de carburador ou válvula de aceleração e câmara de combustão.
Aí você diz:
Mas o manual diz que não pode usar gasolina aditivada, só normal!!
E eu te digo que isso é balela para você virar freguês de concessionária.
E te digo mais:
A obrigatoriedade de uso de gasolina aditivada em todo o país vem sendo adiada desde 2013 e parece que será a única disponível nas bombas a partir de julho de 2017...
E aí, comofas, não vai usar mais a moto?
Então é isso.
Trate bem de sua moto, não deixe de fazer as revisões, use bons produtos, não se esqueça de limpar todos os filtros.
Filtro centrífugo da Jezebel fotografado pelo Dr. Daniel |
Serviço para fazer só em oficina ou tendo um conhecimento razoável de mecânica e ferramentas adequadas.
Tomando esses cuidados básicos e não sendo tapeado, sua moto te proporcionará muita satisfação por longo tempo.
Um abraço,
Jeff
Mais um post show !!! Já encaminhei para meu mecânico de confiança, e venho percebendo que ele está abrindo os olhos para essas "realidades" do mercado. Bom para mim, para minha motoca, e para outros clientes dele.
ResponderExcluirEu acredito que outro post, mais aprofundado sobre esse assunto de descarbonização e flush, será bem interessante. Posso lhe indicar um canal de vídeos de uma oficina mecânica de automóveis em BH: HighTorque do ADG. Apesar de ser sobre mecânica de automóveis, a teoria e prática de manutenção em motores a combustão, e a maioria dos produtos utilizados para limpeza, servem para motocicletas também.
Obrigado, Marcelo!
ExcluirVou dar uma conferida!
Tenho a preocupação de não me aprofundar demais em alguns assuntos para não tornar a leitura mais chata do que já é...
De qualquer forma, esse é um assunto que não tenho muito mais o que dizer. Não gosto da solução de usar produtos químicos para descarbonização porque dependendo da maneira como for feita, poderá trazer outros problemas. A única vez que descarbonizei o motor da moto foi feita com o motor desmontado e não com o uso de solventes... não sei o que eu poderia acrescentar ao que foi dito na postagem.
Um abraço,
Jeff
No manual da Yamaha é o contrário,recomendam gasolina aditivada de boa qualidade e não comum,menos mal pelo menos nesse ponto né,apesar que nossa gasolina é ruim de qualquer jeito,seria menos pior usar a aditivada.
ResponderExcluirPelo menos nesse aspecto os engenheiros da yamaha fizeram direitinho o dever de casa. Já quanto ao intervalo de troca do óleo... 5.000 km com óleo mineral ninguém merece. O Yamalube / Havoline é muito bom mesmo, mas nenhum óleo mineral aguenta tudo isso não. É muita contaminação, não tem jeito.
ExcluirUm abraço,
Jeff
E. vou te dizer, sempre usei apenas aditivada, e a queda de rendimento do motor foi notável depois da mudança para 27,5% de álcool. E é certeza que o problema foi na gasolina, porque quem perdeu rendimento não foi a Jezebel de motor cansado, foi a Edith que o motor estava apenas com 8 mil km.
ExcluirEu de novo,
Jeff
O ideal seria subir um pouco a taxa de compressão para compensar essa quantidade de álcool, porém precisaria acertar ponto de ignição e afinar a mistura para o motor ficar redondinho.
ExcluirUm abraço!
Dan
No manual da Suzuki também a recomendação é de sempre usar gasolina aditivada.
ExcluirOlá, Dan!
ExcluirE o pessoal está "solucionando" o problema de trica de cabeçote da CB / XRE 300 destaxando o danado... pioram uma coisa para piorar ainda mais outra... triste.
Um abraço,
Jeff
Olá, Péricles!
Recomendar gasolina aditivada em um país como o Brasil onde a gasolina é batizada na refinaria seria obrigação de todo e qualquer fabricante, não tem desculpa para isso.
Um abraço,
Jeff
Sou testemunha viva da importância do uso da gasolina aditivada, tive um fusca, mexi muito nele, a cada ano e meio eu desmontava o carburador devido aos entupimentos com substância gelatinosa amarela. Quando a gasolina aditivada surgiu, passei a usar no fusca, sendo que não tive mais problemas com o carburador. Então, uns dois anos e meio se passaram e fiquei curioso com o carburador, visto que não deu mais problemas, qual não foi minha surpresa quando desmontei o dito cujo e encontrei tudo limpo, sem a geleia amarela. Tem mais benefícios que a gasolina aditivada traz aos motores, mas fica um pouco longo explicar aqui.
ResponderExcluirUsem sempre gasolina aditivada em suas motos e sejam felizes.
Abração.
Obrigado pelo depoimento, José Carlos!
ExcluirEu não usava gasolina comum nem na primeira moto nos anos 70/80. Me lembro de ter desmontado o carburador uma única vez porque era recomendado fazer isso nas revisões pelo fabricante (que recomendava gasolina comum) e também encontrei tudo limpo. Só mandei limpar o carburador da Jezebel preventivamente umas duas vezes antes de viagens longas como a ida a Foz e a ida a Floripa, mas a chance de ter problemas com os mecânicos era maior do que manter tudo funcionando como estava, parei de fazer isso. Recentemente meus amigos desmontaram o carburador porque ela ficou parada alguns meses, aí sim é caso que justifica.
Um abraço,
Jeff
E esse aditivo redutor de atrito existente em algumas marcas será que funciona mesmo e traz algum benefício ao motor em relação ao desgaste? As vezes acho que é só marketing para poder vender mais.
ResponderExcluirE qual marca você usa e recomendada?
Olá, Vanderson!
ExcluirTem muito marketing, mas funciona sim.
Só tem que tomar cuidado com o tipo dos aditivos redutores de atrito porque podem ser prejudiciais aos motores das motos.
A embreagem das motos trabalha em banho de óleo e se você colocar um redutor de atrito tipo bissulfeto de molibdênio como o Molykote o motor irá girar mais livre, mas em compensação a embreagem irá começar a patinar porque ela depende do atrito correto para transmitir a força do motor. Usei Militec e gostei do resultado. Na primeira moto lá se vão 40 anos mal me lembro. Tenho quase certeza que cheguei a usar Bardhal B12 em proporções minúsculas e parece que o resultado foi bom, mas vendi aquela moto em pouco tempo, não pude avaliar a longo prazo.
Um abraço,
Jeff
Olá Jeff, erro meu por não deixar claro a pergunta; O aditivo que me refiro são os que é exixtente na gasolina aditivada Shell e também na gasolina aditivada da Petrobrás, por exemplo, que dizem reduzir atrito nos componentes internos do motor.
ResponderExcluirAh, tá. Quem fala isso é a petrobras, né? A tal gasolina grid. Experimentei uma vez e não notei nada de excepcional conforme propagandeado. Me pareceu mais marketing para enfrentar a shell V-Power que ainda é minha preferida. Por sinal, a V-Power era bem melhor antes do álcool a 27,5%. Brasil, sil, sil.
ExcluirUm abraço,
Jeff
Jeff, troquei de posto e de gasolina depois de uma má experiência com essa Grid ultramegapowerfodona da Petrobrás. Quando comecei a abastecer nesse posto, a moto começou a engasgar e falhar, coisa que nunca havia acontecido. Troquei de posto e de gasolina (BR Aditivada, sem a marca Grid), e tudo voltou ao normal.
ExcluirPenso que pode ser algum problema com o posto, conheci uma pessoa que passou pela mesma experiência por lá...
Olá, Péricles!
ExcluirPois é, várias redes de postos acabam nas mãos de quadrilhas eleitas ou não. Quando o posto, o próprio combustível e até a eficiência da fiscalização é colocada em dúvida, a coisa vira um Deus nos sacuda.
Um abraço,
Jeff
O leitor Anderson Marcelo Bica comentou no facebook:
ResponderExcluirÓtimo post!
Tenho uma carburada e uso sempre gasolina Comum, como faço pra passar a por aditivada? Posso colocar meio a meio? Ouvi dizer que quando se usa comum e coloca Aditivada pode entopir o carburador, pois a sujeira do tanque solta...
As vezes o orçamento atrapalha e não da pra abastecer sempre com aditivada...
Olá, Vanderson!
Não tenho experiência para falar a respeito, eu nunca passei por isso porque sempre usei 100% aditivada desde o primeiro tanque.
Acredito que o tanque precisa estar em uma condição bem precária para chegar a causar problema, mas sugiro pesquisar o assunto na internet, sempr aparece o depoimento de alguém que passou pela situação ou que confirmou que não dá problema.
Se tiver receio, comece misturando meio a meio para não soltar algo que esteja preso no tanque de uma vez e vá aumentando aos poucos.
Um abraço,
Jeff
Ao.Jeff,já ouviu falar do Alfa-X redutor de atrito?
ResponderExcluirFunciona igual ao Militec,porém é mais barato,usa-se menos quantidade e vai com qualquer óleo e não afeta a embreagem.
E também é brasileiro.tem até anúncio nas lojas americanas,veja na net.
Grande abraço,man!
Olá, Pedra!
ExcluirAcho que você falou uma vez, mas não tive oportunidade de testar. Ainda não posso falar nada a respeito.
Um abraço,
Jeff