Talvez você tenha visto esta reportagem sobre a morte trágica do ator Paul Walker, de Velozes e Furiosos, diretamente no site sensacionalista TMZ ou mais provavelmente no fantástico da globo:
Reportagem: http://www.tmz.com/2013/12/03/paul-walker-death-car-porsche-memo-warning-carrera-gt-dangerous-hazards/
Com o estardalhaço habitual, a imprensa noticiou que em 2004, antes de colocar o modelo Carrera GT à venda, a matriz norte-americana da Porsche enviou uma orientação para seus revendedores:
NÃO PONHA 'CARRO DE CORRIDA' NAS MÃOS ERRADAS
Ele era "difícil de dirigir" e apresentava as "desvantagens de um carro de corrida", como a hipersensibilidade às condições da pista e necessitar conhecimento do tipo e irregularidades da superfície de rodagem.
A reportagem dá a entender que a Porsche teria alertado que o carro seria perigoso por si, não deveria ser vendido para pessoas inexperientes e, de certa maneira, insinua que isso teria alguma relação com a morte do ator e seu sócio.
Mas não é bem assim, o tmz truncou o documento original dando a entender ambiguamente que o Carrera teria facilidade de capotar.
O texto original é este aqui, também publicado por eles:
Imagem pdf: http://tmz.vo.llnwd.net/o28/newsdesk/tmz_documents/1202_carrera_gt_2.pdf
Provavelmente você também havia entendido daquele modo porque globo/fantástico/g1 embarcaram na onda marota do tmz sem pensar nem pesquisar, a tradução ficou porca e patética:
Até o
Ou que um simples vazamento de fluido da direção hidráulica não poderia ter causado o acidente e o incêndio, como divulgado pela imprensa.
Quem disse isso simplesmente ignora que o tanque de gasolina de um Porsche Carrera GT fica na frente do carro, como num fusca.
Nem vou comentar as "desavantagens da corrida de carro"...
Têstu: tmz.com Tradussaum: istagiaru du g1.globo.com
A única finalidade da mensagem era evitar que os funcionários das concessionárias e possíveis compradores / interessados inexperientes danificassem os veículos em manobras no pátio da loja/oficina ou durante um test drive antes da venda.
"A embreagem é muito cara, 24 mil dólares. O carro não pode passar sobre uma lombada sem danificar os três painéis inferiores [da carroceria] que somados custam 39.367,97 dólares. A transmissão custa 42.585,57 dólares (...) Acredite, esse veículo não pode passar por cima de uma lata de cerveja Foster deitada. Ele irá esmagar a lata e danificar os painéis inferiores de fibra de carbono."
"Você precisa conhecer o tipo de superfície de rodagem em que está (desníveis; buracos, emendas do pavimento, etc.)".
Ou seja:
Mero documento interno para os concessionários, orientando-os a preservar o produto antes da venda ou durante as revisões.
Depois da venda, "ema ema ema, o propriotário terá problema, ter lucro é nosso lema".
Não se iluda!
Nenhum vendedor / empresa do planeta irá se arriscar a perder uma venda falando qualquer coisa em público que vagamente possa sugerir que um veículo fabricado por eles seja perigoso.
Ou afugentar seus compradores informando que ele é frágil e altamente suscetível a danos bem caros.
Essa mesma ética(?) se aplica à indústria / mercado de motocicletas.
O pessoal não sente o menor remorso de vender à vista uma moto de alta cilindrada para um garoto de 16 anos sair pilotando da concessionária e virar estatística depois de 5 km.
Fato real ocorrido aqui em Floripa há alguns anos.
Tem um fabricante que não teve o menor pudor em criar uma categoria de competição para garotos a partir de 10 anos (!!!).
Um bando de crianças pilotando motos 150cc de quase 100 kg a 110 km/h, se embolando nas frenagens e curvas no limite da aderência, o pódio só tem lugar para os três primeiros; ora, o que poderá dar errado, Murphy?
Então, para seu próprio bem, procure conhecer todos os riscos que envolvem a pilotagem de uma moto antes de escolher e sair pilotando sua nova máquina.
Quanto maior a cilindrada, mais arisca e difícil de domar será a moto, e maiores serão as chances de você se arrepender para o resto da vida.
Que poderá ser muito curta.
Sempre comece pela menor moto com tamanho adequado para você.
As informações de riscos inerentes você não ouvirá dos vendedores nas concessionárias, terá de pesquisar em blogs e fóruns do modelo.
Sempre haverá alguém comentando sobre um susto, uma reação inesperada ou uma pane típica ou defeito crônico daquele modelo de moto em particular.
Converse com proprietários (que não estejam pensando em vender a moto para você).
Se ainda não leu, leia a Apresentação, primeira postagem deste blog. Lá eu comento esse assunto com um pouco mais de profundidade.
Um abraço,
Jeff
Nenhum comentário:
Postar um comentário