Estava preparando uma postagem sobre isso quando passei o assunto da postagem anterior na frente, e por coincidência alguém chegou ao blog com a pergunta do título.
O que acontece quando falta óleo no motor da moto?
Foi o que vivenciamos ontem na prática.
Pela manhã, fizemos um percurso de 20 km, aí Jezebel ficou parada por aproximadamente uma hora. Depois voltamos por um percurso mais longo, de 24 km.
Na ida e na volta a moto estava rodando muito bem, bem até demais, o que é sintoma de nível de óleo baixo — com pouco óleo no cárter, o motor gira mais solto porque não precisa enfrentar a resistência viscosa normal do óleo.
O motor também fica barulhento, roncando mais alto do que o normal; um aumento do ronco do motor indica um motor fazendo mais força do que o habitual. O óleo também abafa levemente o ruído do motor, por isso que motor bem lubrificado é mais silencioso.
Contra o que ele está fazendo força? Contra ele mesmo.
Nível de óleo baixo aumenta o atrito das peças internas; o motor precisa de mais energia para fazer o trabalho dele e vencer o atrito anormal, então o ronco mais alto é indicativo de que as peças estão fazendo mais força e sendo desgastadas mais rapidamente.
Eu havia notado isso e imaginei que o nível devia estar bastante baixo, aí lembrei de não ter conferido nas últimas duas semanas... my bad.
Com esse negócio de ficar alternando o uso de duas motos, as chinesas lifeng mvk Fenix Gold 250 Edith e a zongshen dafra Kansas 150 Jezebel, tendo que manobrar as duas para sair da nova vaga da garagem, acabei descuidando do nível de óleo. Logo eu, veja só.
Como só estava usando a Bél em percursos curtos de 10 km (5 na ida e 5 na volta) até a padaria, relapsei.
Mas o consumo de óleo de um motor bem rodado (78.320 km), que naturalmente já é mais elevado, aumenta ainda mais em percursos curtos, porque o motor trabalha sem atingir 100% da temperatura normal de funcionamento.
Ou seja, com as folgas ainda maiores do que o normal, o óleo passa ainda mais facilmente através dos anéis.
Mas aí vem a parte interessante:
Na volta, após percorrer 20 km e faltando 4 km para chegar em casa, percebi o sofrimento do motor ao subir o morro do Avaí e parei no primeiro posto.
Como assim, sofrimento do motor?
O sintoma é parecido com a moto pedir reserva, mas menos intenso. O motor perde força, mas não chega a dar engasgadas, apenas diminui o rendimento.
Se eu continuasse forçando o motor, chegaria um ponto onde seria difícil passar marchas, porque o motor excessivamente quente se dilata mais do que o normal, eliminando as folgas, e as peças já não se encaixam mais com precisão — você não consegue mudar de marcha porque as peças simplesmente não conseguem se encaixar, tão dilatadas que estão.
Isso acontece porque com pouco óleo o motor trabalha mais quente do que o normal, o que diminui sua viscosidade ("afina o óleo") e faz aumentar o atrito das peças internas. E atrito gera calor.
Uma parte da potência do motor está sendo utilizada para forçar as peças a girar, forçando as peças a deslizar umas sobre as outras. Isso é a mesma coisa que desgastar.
E o atrito gera calor que aumenta ainda mais a temperatura dos componentes, num círculo vicioso que só serve para diminuir a vida útil do motor.
Com o motor bem lubrificado, esse esforço, desgaste e aumento adicional de temperatura são mínimos. Já com o nível de óleo baixo, o esforço extra será suficiente para ser percebido, se você estiver atento ao que o motor te diz e tiver sensibilidade para perceber pequenas mudanças de comportamento.
Coloquei 400 ml de óleo para chegar em casa e conferi hoje pela manhã, estava na marca de nível máximo. Sou bom de chute.
Isso indica que a moto estava rodando com a quantidade de óleo recomendada pelo fabricante (1 litro) e o sofrimento do motor era sensível, porque graças ao erro grosseiro e absurdo da quantidade de óleo recomendada de Kansas e Speeds, já estávamos 200 ml abaixo do nível mínimo real.
Então por que ninguém percebe isso quando a moto está nova?
O primeiro motivo é porque a moto está nova. Um motor bem rodado sente mais o problema porque as folgas são maiores, ampliando as vibrações e os atritos internos.
E também porque o primeiro dono não conhece nada do funcionamento do motor de sua primeira moto, acha que tudo está normal (afinal a moto é nova) e mesmo quando desconfia que há uma anormalidade e reclama na concessionária, ouve do pessoal "moto chinesa é assim mesmo, honda é que é honda".
Sério, isso aconteceu quando lançaram as dafra Speed e Kansas, acompanhei as discussões no fórum.
Felizmente a Kansas Jezebel foi minha segunda moto, eu já tinha vivência suficiente para saber detectar sintomas de nível de óleo baixo porque o óleo recomendado pelo fabricante da minha primeira moto era uma bela de uma porcaria.
Ele fazia o motor fumar com apenas 5 mil km rodados (com as trocas de óleo em dia conforme o manual — problema que acabou quando mudei de óleo), então tive condição de matar a charada do câmbio duro e dificuldade de achar o neutro da Kansas logo no primeiro dia com ela. E é por isso que não tenho o menor respeito por marcas famosas.
Quando está perto de fundir o motor da moto?
Se eu não tivesse parado e colocado mais óleo, se tivesse insistido em rodar com o motor sofrendo, ele começaria a fumar e poderia chegar uma hora em que ele simplesmente travaria, com as peças se fundindo devido à alta temperatura. Aí a situação seria a descrita nesta outra postagem.
Mas eu estava a 2 km de sair da BR, então passaria a rodar em velocidade mais baixa, não exigindo tanto do motor, os sintomas diminuiriam. Outra pessoa poderia chegar em casa e acabar esquecendo da falta de óleo.
E enquanto continuasse a rodar em percursos curtos, o nível de óleo continuaria abaixando. Finalmente, se esquecesse completamente de verificar o óleo e pegasse novamente uma rodovia, o motor começaria a fumar intensamente e acabaria travando de vez bem na frente de um caminhão.
Essa é a situação de quem está sempre rodando com óleo no nível mínimo porque não leu ou não teve acesso ao manual do proprietário... simplesmente está correndo risco de vida ao pegar uma via expressa.
Caso enfrente uma subida de serra, o pouco óleo do cárter irá para a parte traseira do motor, deixando a bomba de óleo trabalhar a seco e todas as peças móveis apenas gerando calor. Motor fundido na certa, como já vimos acontecer.
Esse meu descuido foi resolvido rápido, mas roubou alguns poucos milhares de km de vida útil do motor. Quantos, eu nunca saberei.
Tome cuidado para não deixar isso acontecer com seu motor; é uma judiação com a pobrezinha da sua moto, e um risco de vida para você e sua garupa. Droga, não vou conseguir dormir direito pelo resto da semana...
Um abraço,
Jeff