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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Mecânicos de confiança e manuais de proprietário

Estávamos eu e meu amigo Felizbão cafezando na padoca lá de Santa Catarina (já tem uns 3 anos) quando entrou um cara de capacete na mão.

Como sempre faço, tento alertar o maior número de pessoas para que não tomem prejuízo e não corram riscos.


Perguntei para o sujeito se eu já tinha falado sobre o nível de óleo da moto, e ele disse que já.


Fiquei contente e perguntei se tinha feito diferença...


Ele fez aquela clássica torcida de boca acompanhada daquele gestinho de desprezo com a mão, como quem empurra no ar uma coisa sem importância, e juro que vi um balãozinho em cima da cabeça dele dizendo isso é besteira.


A resposta dele foi:

Nem olhei, eu levo a moto na oficina e deixo na mão do mecânico.

Felizbão fez um jóinha de aprovação e soltou um sorridente "é isso aí!"

Como eu tento me convencer de que sou uma boa pessoa e me esforço (só um pouquinho) para não desejar mal a ninguém, torço para que esse sujeito (e meu amigo Felizbão) levem sempre suas motos a bons mecânicos.

Depois que o tal sujeito foi embora, Felizbão quis provar que eu estava errado e começou uma pesquisa na internet. 


Felizbão disse que é a coisa mais fácil encontrar muita gente disposta a ajudar os novatos com postagens ou vídeos ensinando a trocar o óleo da moto:


Pô, Felizbão...

Kansas com 1 litro de óleo???

Falei para ele que eu tinha uma Kansas e que colocar só 1 litro de óleo e medindo do jeito certo não chegava nem no mínimo da vareta... o dono dessa moto já perdeu esse motor há muito tempo.

Ou então passou pra frente achando que deu azar, que é o que todo mundo faz...

Felizbão não se convenceu e continuou sua pesquisa, e me veio com essa postagem de um mecânico bastante experiente:
Trocar o óleo da moto e colocar apenas 900 ml de óleo, nem uma gota a mais, não colocar o litro todo, apenas 900 ml, enroscar a vareta e pronto, pé na tábua e boa viagem...

E ele enfatizou bastante os 900 ml...


— Pois é, Felizbão...

O cara é mecânico de motos, ganha a vida consertando motos, só faltou aproveitar para fazer propaganda da oficina dele, né?

Dizer algo como: 

Quando sua moto tiver algum problema, me procure.


Hummm... 900 ml e nem uma gota a mais? 

Tá serto, vai nessa que é suça...

Outras pessoas simplesmente arrotam na internet o que pensam que sabem, falam para fazer procedimentos em total desacordo com o manual do proprietário, e criticam quem fala para ler o manual... contradição total. 

Ignorância ou má fé. Ou burrice mesmo.

O tal blogueiro tipo Teo Pereira é o escriba que vos tecla neste momento. Esse comentário patético foi postado em algum lugar do blog que nem me lembro mais.
A propósito, "arrotos errôneos" seria um bom nome para uma banda de rock. 

Felizbão, Felizbão... você pelo menos conferiu o que diz a fabricante da moto?


Afinal as concessionárias autorizadas entendem — ou deviam entender — melhor do que ninguém da sua moto.


Lá eles seguem — ou deviam seguir — as instruções da fabricante e fazem tudo direitinho. 


Pelo, menos, é o que se espera que façam.

Olha só o que o novo manual da CG 125 fala sobre a quantidade do óleo na página 59:


Bom, essa informação é mais recente que a do mecânico experiente lá de cima.

E entre colocar 900 ml e 1 litro, se eu fosse você, colocaria 1 litro e verificaria o nível de óleo, como manda o fabricante.

Agora o curioso é que a fabricante fala para medir, mas não fala nada na mesma página sobre como medir o nível logo depois de trocar o óleo. Facilitava, né?


Felizbão não se conteve:

— Bah, não tem mistério, é só tirar a vareta, limpar e colocar de novo... todo mundo sabe disso. 

Uma única vez eu medi assim logo depois de colocar 1 litro de óleo e o nível deu lá em cima, bateu certinho...


— Felizbão, algum dia você leu o manual?


— Não precisa, moto é tudo igual e todo mundo sempre colocou 1 litro de óleo. Todo mundo faz assim desde sempre.

— Tá bom, Felizbão... só que eu não sou assim. Eu leio o manual para ver se não tem alguma informação a mais, alguma pegadinha que ninguém notou até agora.

E olha lá a instrução, ele fala para você sair da página 59 e voltar duas páginas para ler a página 57.

Felizbão disparou:

— Orra meu, baita asneira... 
Conferir o nível do óleo para quê? 

Se eu acabei de colocar 1 litro de óleo, como manda o manual? 


1 litro é 1 litro, né?

Não pode colocar mais que 1 litro, então vou medir pra quê?


— Não, amigo Felizbão, você não leu a informação mais importante.

Ela está bem ali, tão discreta que você nem deu bola — porque está na página 57.


O que você encontra escrito lá na página 57?

Na página 57 você encontra uma grande ATENÇÃO falando sobre o consumo de óleo durante a utilização da motocicleta.

— Bah, minha moto é nova, não faz fumaça, não queima óleo, n
ão tem nada a ver isso aí... 

Acabei de trocar o óleo, nem liguei o motor, como é que vem falar em óleo consumido? Se liga, meu!


Perda de tempo, cara! 


— Engano seu, Felizbão leitor feliz que só lê a primeira linha!

Não se afobe! 


Se o manual mandou voltar e ler, faça o que o manual diz... 


Leia tudo, apesar de a informação aparentemente ser contraditória — pode ter alguma coisa ali que você ainda não percebeu...

Lá também está escrito que para ver o nível do óleo não é só retirar e conferir a vareta — o vendedor mentiu para você.


Se o motor estiver frio, você tem que ligar o motor. 

Aquele dia que você conferiu e o nível deu lá em cima, você não mediu do jeito certo como fala no manual...

A fabricante mandou ligar e desligar o motor, e colocar mais óleo que a quantidade recomendada até atingir o nível correto, então é isso que você tem que fazer — no seu interesse, não pule essa etapa.


E continue lendo, que o texto continua na página 58.

— Mais perda de tempo, meu!

A página 58 fala sobre colocar óleo se o nível estiver "abaixo ou perto da marca inferior".


Isso nunca que vai acontecer porque eu acabei de colocar a quantidade recomendada pelo fabricante, 1 litro de óleo, e o nível fica lá em cima, um dia eu conferi. 


— Conferiu direito, Felizbão?


Tem certeza disso?


Você põe sua mão no fogo de que você está certo?


Olha lá, hein? 


O mecânico lá de cima não inventou aqueles 900 ml, essa era a quantidade que a honda mandava colocar nas primeiras CGs... e aí?


Apesar de isso ser falado em outra seção e parecer ser um assunto totalmente diferente, o manual diz que se o nível estiver baixo, você precisará completar até o nível máximo da vareta, certo?


Se o manual mandou verificar, não custa verificar, né?


E se por acaso ele estiver baixo?

Ah, mas ali fala que só precisa ligar o motor se estiver frio, e quando eu troquei o óleo a moto tava quente, então não preciso ligar o motor pra conferir...


Errado, muito errado, meu caro desconhecedor de noções básicas de Mecânica. 


Ao colocar o óleo ele fica todo lá embaixo no cárter e o nível parece lindão na vareta / visor. 


Mas você precisa ligar o motor para encher a bomba de óleo, os dutos e o filtro de cartucho (caso das suzuki e várias motos de grande cilindrada) ou o filtro centrífugo (hondas, dafras, traxxes, shinerays, etc. de pequena cilindrada).

Só aí é que você vai ver o nível correto da maneira que a fabricante determinou — e não do jeito que te ensinaram. Errado.

A propósito, você lembra quem foi que te ensinou que para medir o nível era só tirar a vareta e medir igual se faz nos carros?


Porque todo mundo parece receber essa informação, e eu não consigo descobrir de onde ela vem...


Como é que ela se espalhou pra todo mundo, apesar de nos manuais de proprietário estar escrito coisa diferente?

Se você lembrar quem te falou isso, promete que me conta quem te passou essa informação errada? E de onde essa pessoa tirou isso?


Fico grato antecipadamente. 


Mas voltando à vaca fria:


Uma coisa que você não sabe, e isso não é informado no manual, 
é que depois de ligar o motor o óleo vai abaixar bastante na vareta / visor... e é aí que mora o perigo. Poxa, por que não informam isso? Economia de tinta? Economia besta, só uma dúzia de palavras. 


Então o Felizbão me disse: 


Mas se o fabricante falou para colocar 1 litro e eu fiz o que ele mandou, coloquei a quantidade recomendada de 1 litro, é besteira conferir, não é


1 litro é 1 litro...

Para ficar na segurança e não no achismo, só por via das dúvidas:

Experimente fazer a coisa exatamente como está escrito no manual logo de manhã cedo no dia seguinte que você trocou o óleo ou a moto voltou da revisão da concessionária... ou chegou zero km.


Se por acaso (por mero acaso) o nível estiver baixo, você já aproveita para fazer aquilo que está escrito no manual: complete até a marca superior.


Porque no manual está escrito que se o motor funcionar com pouco óleo ele será danificado. 


O que não está escrito no manual é que um motor com pouco óleo pode travar ou perder a potência no meio da estrada, com grande chance de causar um acidente. 


Taí uma Kansas que rodava só com 1 litro colocado na concessionária, viu só o que aconteceu lá no alto da serra de Ubatuba?


Motor fundido com apenas 7.623 quilômetros, ainda na garantia com óleo sempre trocado em concessionária...

Essa Kansas não era da nossa turma, nós a encontramos por acaso parada no acostamento bem na hora em que o motor fundiu. 

Naquele feriadão as nossas Kansas com 1,4 litro de óleo foram de São Paulo até Trindade no Rio de Janeiro — e voltaram numa boa.

— O que acontece é o seguinte, Felizbão (disse eu):

Na hora da troca com o seu motor totalmente quente, você coloca o óleo e ele se dilata, fica alto na vareta medidora ou enche o visor de nível de óleo.

Mas as galerias, bomba e filtro (e até o radiador de óleo nas motos que usam) estão vazios.

Depois que você liga o motor, o nível abaixa e abaixa muito, e demora um tempão para voltar a subir.


Mas isso não é tudo:

Experimente medir o nível no dia seguinte pela manhã exatamente como o manual manda fazer — com o motor totalmente frio, e aquecendo no máximo por apenas 5 minutos como manda o manual
(porque 5 minutos mal dá para aquecer o motor, o óleo não chega a se dilatar totalmente).  

Se por um "acaso misterioso" você encontrar o nível lá embaixo, perto da marca de nível mínimo, ou até abaixo dela, não deixe de completar exatamente conforme orientado pelo seu manual de proprietário do seu modelo de moto.


Depois você volta aqui e diz o que você descobriu por si mesmo, e não porque eu falei.


Mas deixo uma dica:


Não espere o nível ficar abaixo ou perto do mínimo não... nem sei porque as fabricantes recomendam isso...


Elas mesmas falam que rodar com o óleo baixo prejudica o motor.

Aquela faixa que tem na vareta ou no visor de nível de óleo se chama faixa de segurança.


Rodar com o óleo no nível mínimo ou abaixo da faixa de segurança não traz nenhum benefício para o motor. 


Se eu fabricasse motos, nunca que eu recomendaria para um cliente meu esperar o óleo chegar ao mínimo ou abaixo dele.
Afinal, sou um cara honesto.

Recomendaria reabastecer de óleo assim que o nível chegasse na metade da faixa para não dar chance de o motor rodar com óleo baixo e esquentar demais.

Uma vez a minha moto, com o óleo no nível certo, foi obrigada a ficar uns 5 minutos ao lado de um caminhão com outro atrás colando o para-choque. 

Eu não conseguia ultrapassar, nem sair da frente... o jeito era acelerar ao máximo porque o cara atrás estava rebitadão.

Assim que deu brecha, fui para o acostamento. 

O motor estava tão quente que não dava mais para mudar as marchas, mais um pouco que ficássemos ali, o motor travava e nós tínhamos virado notícia: "motociclista perde controle e é atropelado".

Se o nosso motor quase travou com a quantidade certa de óleo, um motor com nível baixo certamente teria se travado.

E por isso que é tão importante manter o nível de óleo sempre lá na marca de nível superior. 

Eu só gostaria que a honda* explicasse o motivo de o manual do proprietário não mandar SIMPLESMENTE LIGAR O MOTOR DEPOIS DE ABASTECER antes de conferir o nível de óleo.**

Se essa informação estivesse no manual, ninguém rodaria por aí com o óleo no mínimo e os motores durariam muito mais.

*Cito a honda por ser a autora do manual usado para explicar o procedimento confuso e incompleto, mas todos os outros fabricantes fazem coisa parecida.
** Esta postagem foi escrita ainda em Santa Catarina há uns 3 anos. Depois disso a honda atualizou os manuais e agora o procedimento diz exatamente aquilo que eu cobrava aqui.

A honda e demais fabricantes certamente sabem o que fazem, e devem ter seus motivos pra isso — quem sou eu para falar alguma coisa, né?

Sou apenas um consumidor motociclista que comprova as coisas na prática porque é o meu patrimônio e a minha vida que estão investidos nessas máquinas.

Agora, Felizbão, se depois de tudo que eu falei, você não ficar disposto a pelo menos conferir na sua moto o que eu estou dizendo, faça o seguinte:


NÃO FAÇA NADA!


Não se preocupe com isso, saia por aí despreocupado e dizendo que eu sou um imbecil que não conhece o manual do proprietário.


Que tenho total falta de conhecimento de motores (apesar de ser técnico em Mecânica Industrial com especialização em Manutenção de Máquinas).

E que invento coisas porque tenho a imaginação fértil...

E continue levando a moto lá no seu mecânico de confiança.

Afinal nível de óleo é uma coisa pessoal, cada um coloca quanto óleo quiser, continue fazendo como sempre fez porque acha que é o certo — apesar de o fabricante dizer o contrário... a moto não é minha mesmo! 


Não sou eu quem vai estar em cima da sua moto se o motor fundir no alto da serra ou travar no meio de uma BR... 


E quando sua moto tiver problema, não me procure.

Felizbão não se conteve:

— Ah, vai me dizer que você é louco de botar mais óleo do que o fabricante manda?


Sou sim, porque não sou burro.


O fabricante manda colocar mais óleo até atingir o nível correto.

E fiz e continuo fazendo muitos bons amigos graças a essa minha "loucura" de obedecer o manual do proprietário.

Amigos tão loucos quanto eu e que um dia resolveram sair de São Paulo e dar um pulinho nas três fronteiras com suas Kansas 150, todas com 1400 ml de óleo...

...apesar de o manual do fabricante mandar colocar apenas 1 litro (e o sac da empresa dizer que não pode colocar nem uma gota a mais do que 1,2 litro, que é a capacidade máxima declarada por eles).

A propósito, fomos e voltamos metendo o pé na tábua enrolando o cabo e fizemos uma ótima viagem, e estamos rodando até hoje sem retificar o motor, ok? 

E depois disso Jezebel ainda trouxe minha mudança para Floripa na garupa... me levou daqui até o Rio de Janeiro... me levou daqui a Ilhabela... Santo André e Campinas várias vezes... 83 mil km de bons serviços.* 

*83 mil km na época que criei a postagem... agora em 2017 ela está na casa dos 100 mil km, e poderia estar com uns 110 mil km se nesse meio tempo eu não tivesse rodado 10 mil km cravados com a Edith, minha saudosa Fenix Gold...

— Ô, loco, meu! 


Tua moto anda com 1 litro e 400 de óleo? 


E não estourou retentor, não estourou junta, não deu vazamento?


— E por que iria estourar, por que iria vazar, Felizbão???


O motor das Kansas comporta todo esse óleo porque é maior que o motor das CG Titan e Fan.



Esse óleo extra é necessário para lubrificar o balanceiro, onde cabem uns 200 ml de óleo a mais do que nas CG. 

Com 1400 ml ela roda com o nível de óleo correto conforme o manual, e não com excesso.


Motor com o nível de óleo certo funciona bem que é uma beleza.


Felizbão foi embora e, sinceramente, não me pareceu convencido.

Escutei ele murmurando alguma coisa que me pareceu que ele dizia que eu era um débil mental...

Felizbão, Felizbão... 

Um dia ele vai descobrir na moto dele que não vale a pena deixar de ler o manual do proprietário.

Um abraço,

Jeff

quinta-feira, 25 de maio de 2017

renault comete pequeno engano no manual, mas agora tá serto

Durante a pesquisa sobre o caso da bmw das postagens anteriores, tropecei neste caso aqui da renault:
Postagem do Olho no Óleo: http://www.olhonooleo.com/single-post/2014/10/17/Manual-que-engana

O vídeo mencionado é este aqui embaixo:


Pois é, as concessionárias estavam usando aqui no Brasil um óleo que não é recomendado no manual do proprietário.

A renault informou que o "erro" estava no manual, e não na prática das concessionárias:
Manual de proprietário renault Master mostrado no vídeo da postagem do Olho no Óleo: http://www.olhonooleo.com/single-post/2014/10/17/Manual-que-engana

O bizarro é a renault usar o óleo 5W-30 na moita e, flagrada na contradição, tentar convencer os proprietários de que o manual apresenta um erro...

Um "erro" que fazia os motores ficarem menos barulhentos, rodarem com maior suavidade e terem maior vida útil...

Por todos os critérios aceitos universalmente, climas quentes exigem óleos de maior viscosidade.

Os engenheiros determinaram o uso de óleo SAE 5W-40 ou 10W-40, mas o departamento comercial responsável pelas concessionárias divulga que o manual está errado e determina o uso de um óleo de viscosidade inferior...

As montadoras padronizam óleos cada vez mais finos em todo o mundo, jogando fora décadas de conhecimento técnico e empírico sobre a lubrificação de motores.

Afinal, motores e carros que duram décadas não movimentam as vendas das concessionárias.

As empresas estão cada vez mais empenhadas em convencer o mercado de que o óleo fino é a melhor coisa que existe para o seu carro ou moto popular com motor "moderno de alto desempenho".

Curiosamente, os motores modernos de alto desempenho de carros não populares como os bmw que vimos nas postagens anteriores usam óleo 10W-60.

E 10W-60 também é o óleo usado pelo motor do bugatti Veyron, talvez o carro com motor de melhor desempenho da atualidade:
Imagem: http://www.bugatti.com/veyron/veyron-164-grand-sport-vitesse/

E não só o bugatti Veyron, mas outros motores de alto desempenho respeitáveis como os da ferrari, audi, aston martin e koenigsegg.
Óleo 10W-60: http://www.castrol.com/en_gb/united-kingdom/car-engine-oil/engine-oil-brands/castrol-edge/edge-product-range/supercar.html

Mas o marketing é que óleo fino é "o único que protege melhor e garante maior vida útil para seu motor".

Engraçado que não é isso que a gente vê na prática, né?

Não tem graça nenhuma quando o motor da sua moto ou do seu carro ferve e abre o bico com uma quilometragem estupidamente baixa...

E você descobre que a garantia não cobre seu "mau uso", apesar de todas as revisões feitas na concessionária...

Enganos em manuais de proprietários são comuns há décadas — com frequência absurda nas páginas de especificação de viscosidade e nível do óleo.

Você viu isso nas últimas três postagens, fora muitas outras espalhadas pelo blog.

É impressionante como os fabricantes tomam tanto cuidado para fornecer informações confiáveis...

E acabam cometendo enganos tão graves justamente quanto à questão do óleo vital para a vida útil dos motores.

Enganos muito, muito difíceis de entender e justificar.

Quer ver um exemplo bizarro que descobri esta semana?

Você sempre aprendeu que a vareta medidora é lida assim, não foi?
Imagem: Internet, legendas traduzidas por mim. — A própria indicação "muito cheio" é enganosa.

O óleo precisa ser mantido dentro da faixa segura para evitar que o motor sofra por falta ou excesso de óleo.

Isso é o básico do básico.

Mas agora veja o exemplo deste outro manual de um veículo recente — que não é da renault, mas está aqui para ilustrar esses "enganos" bizarros que aparecem em manuais de proprietário:

O que você pensa quando encontra um manual de proprietário que diz que o óleo deve ser mantido abaixo da marca de nível mínimo da vareta medidora? 
Imagem: Enviada por um amigo, legendas traduzidas por mim.

Notou a chave apontando a faixa segura abaixo da faixa segura?

Eu diria que isso não é engano — é muita cara de pau. 

O texto diz que o nível deve ser mantido dentro da faixa de segurança, mas mostra uma discordância entre a faixa segura da vareta e a indicação.

Curiosamente, esses enganos nunca acontecem para induzir à colocação de mais óleo, apenas para manter o motor morrendo de sede.

Qualquer argumentação para justificar isso é insustentável.

Alguém poderá dizer "vai ver que a indicação da vareta estava errada e eles corrigiram no desenho do manual"...

E aí eu pergunto se tamanha incompetência para projetar a vareta medidora não se refletiria na qualidade do projeto do motor.

"Vai ver que eles aproveitaram a vareta de outro modelo..."

E aí eu pergunto se tamanha economia para definir a vareta medidora não se refletiria na qualidade do produto como um todo.

Visto por qualquer ângulo, um tremendo tiro no pé.

Se for questionada, o que a empresa dirá?

Aposto que se sairá com a desculpa de que foi apenas um "engano do manual", como fez a renault.

Afinal, enganos acontecem, não é?

Enquanto isso, nossos motores duram cada vez menos.

O povo aceitará e ficará tudo por isso mesmo, cada um cuidando do seu prejuízo.

Tem sido assim há décadas.

Um abraço,

Jeff

terça-feira, 23 de maio de 2017

Erros e acertos da postagem da bmw

Errei e estou muito cansado, tive uma overdose de bmw na última semana, mas não vou adiar a publicação desta "retratação". 

Ou melhor, uma explicação do erro cometido na postagem anterior.

O cansaço é grande e o raciocínio pode estar confuso, peço sua compreensão. 

E se por acaso você encontrar algum erro nesta postagem, por favor, só me avise quando eu voltar das férias... São novamente quatro da manhã de mais uma de muitas noites mal dormidas...

Admito, eu errei. 

Ainda bem que errei!

Porque os esclarecimentos que recebi do leitor Victor Garcia permitiram confirmar com mais detalhes a denúncia de ontem.

Sugiro ler a discussão técnica nos comentários da postagem anterior, eles lançam muita informação que optei por não repetir na totalidade aqui, já que a postagem precisa ser mais condensada.

Explicando como errei da maneira que errei (mas não errei totalmente):

A página de manuais da bmw que consultei é esta aqui:

Página com links para manuais proprietário bmw: https://www.bmwsections.com/ 

Eu pesquisei nas seções em amarelo, que contêm tanto motores de alto desempenho quanto desempenho normal para as séries 3, 5, 6 e Z8.

Mas todos os motores de alto desempenho também estão agrupados na pasta destacada em vermelho.

Você também pode chegar neles pelo caminho amarelo, desde que perceba a letra M antes do número do modelo. 

Experimente, depois me diga que não ficou confuso.

O fato é que  bmw possui manuais específicos para os modelos equipados com os motores de alto desempenho, mas nem todos os exemplos que peguei coincidiram com esses modelos... muito azar.

Por exemplo, peguei exemplos corretos para série M3 de 2001, e a bmw trocou o óleo desses motores justamente a partir do ano 2002.

Se eu tivesse escolhido também um manual do ano 2002, teria o exemplo perfeito e não haveria confusão...

Como vimos ontem, estas são as recomendações para o motor E46 de alto desempenho de 333 hp usado a partir do modelo BMW M3 Conversível 2001:
Manual do modelo BMW M3 Convertible 2001: https://www.bmwsections.com/docs/m/

E estas são as recomendações para o motor E46 de alto desempenho de 333 hp usado o mesmo modelo bmw M3 Conversível 2002:
Manual do modelo BMW M3 Convertible 2002: https://www.bmwsections.com/docs/m/

Nos modelos a partir de 2002 com o mesmo motor I6 de 333 hp  do ano anterior, a bmw passou a recomendar o uso "preferencial" do óleo 10W-60...

Ou o uso alternativo de óleo 5W-40 ou 10W-40 no mesmo motor — sem falar nada sobre critérios de adequação em função da temperatura ambiente.

A decisão fica ao gosto do freguês.

Era tanta informação que tive de fazer tabelas para não ficar perdido.

Esta é dos manuais da Série M3, aquela que precisou trocar o tipo do óleo a fim de parar de estourar motor:
Os modelos M3 realmente foram lançados com motor I6 de 333 hp usando óleo 5W-30 e 5W40, e com os motores dando problemas a bmw alterou a especificação do óleo para 10W-60.

Note que a bmw manteve os óleos que causavam problema como "alternativas" aceitáveis. 

Por que "aceitável"?

Por que quem usa o carro sem exigir muito, só vai ter problemas em curto prazo se fizer uma viagem longa por regiões quentes, ou usar o carro em alta velocidade continuamente.

Para o pacato cidadão, o carro durará um ou dois anos sem problemas, tempo suficiente para ele trocar de modelo e o abacaxi estourar no colo do segundo proprietário.

E aí ninguém é o pai da criança...

Isso confirma plenamente a denúncia e a argumentação de que óleos de maior viscosidade conseguem ser usados em qualquer motor, desde que ela seja adequada para a temperatura ambiente.

No Brasil, felizmente quase não temos essa preocupação com clima frio.

Onde errei feio na postagem de ontem?

Os dados que peguei para a série M5 na postagem de ontem estavam errados — usei os dados da série 5, que usa motores 6 em linha mais tranquilos, sem turbo.

Os dados corretos para a série M5 são estes:
E uma tabela resumida com motores da Série 5 comum é esta:
Note que os motores 6 em linha de baixo desempenho são basicamente os mesmos usdos na Série M3, exceto pelas modificações no cabeçote e adoção do turbocompressor e algumas outras.

Naquilo que interessa para esta discussão, a parte dos dutos de óleo finos demais para aguentar óleo mais grosso, e mancais de bronzinas, a mudança do óleo nos mesmos motores de 2001 para 2002 provou que ela é plenamente viável.

Motores não estouram por usar óleo mais viscoso, a menos que ele seja viscoso demais para a temperatura predominante naquela região.

Mas há tolerâncias e você é capaz de perceber se o seu motor está sofrendo com um óleo novo mais viscoso.

Ao contrário do que ocorre com o óleo fino, onde os proprietários reclamam e as concessionárias insistem que é assim mesmo até que o proprietário estoure o motor...

Voltando à bmw, seus motores V8 sempre usaram o óleo 5W-30 ou 5W-40 — então errei em falar que eles usavam óleo 10W-60 por parte da fabricante — quem descobriu que eles rodavam melhor com esse óleo foram aqueles proprietários no fórum.

Falando especificamente do 10W-60 para os motores V10, as instruções para o uso desse óleo são um pouco confusas.
Manual de proprietário: bmw M5 Sedan 2007 https://www.bmwsections.com/docs/m/

O manual fala que o motor deve usar óleo 10W-60, mas se ele não estiver disponível para repor pequenas quantidades, a complementação poderá ser feita alternativamente com óleos menos viscosos.

O fundamental é não deixar o óleo muito baixo no cárter — é preferível misturar com outro tipo de óleo do que deixar o motor fundir com a preocupação de manter a pureza do óleo.

Então esses outros óleos menos viscosos são apenas uma alternativa para repor a quantidade consumida — não está escrito no manual que você pode usar óleo SAE 10W-40, SAE 5W-50 ou SAE 10W-50.

Mas uma olhada apressada pode dar essa impressão, já que a viscosidade principal está no pé da página e as alternativas estão em evidência no alto da página.

Quem olha somente a segunda coluna e não lê o cabeçalho pode cometer um erro de escolha, mas aí não será culpa da bmw.

E finalmente, o manual dos modelos Série M6: 
Então a afirmação que eu fiz de que a bmw não estava passando a informação do óleo correto em relação ao 10W-60 para seus motores estava errada, peço desculpas aos leitores.

Este foi o principal erro que cometi:

A bmw sempre usou motores V8 e V10 tanto na série 5 quanto na série M5, sendo que nunca recomendou óleo 10W-60 nos motores V8, mas apenas nos motores V10.

Os motores V8 usam óleo menos viscoso, os V10 sempre usaram óleo 10W-60... mas o site da bmw sobre óleos recomendados não faz distinção:
Óleos originais bmw: http://www.bmw.com.br/pt/topics/offers-and-services1/personal-services/oil_service.html

O site fala somente que o óleo 10W-60 é o correto para os M3 fabricados até dezembro de 2013, e os M5, M6 e Z8 fabricados até dezembro de 2010.

E isso explica porque havia um adesivo debaixo do capô dos proprietários americanos recomendando o uso do óleo 5W-30:

Não era uma pegadinha da fabricante bmw — não no sentido de ser um ato de má-fé.

É simplesmente a prática atual da indústria de trabalhar com óleos cada vez menos viscosos para obter índices de consumo e supostamente emissões que não seriam obtidos se nossos motores tivessem longa vida útil.

Aí é questão de discutir se é verdade que abreviar a vida útil do motor irá contribuir para poluir o ambiente em maior ou menor escala.

Eu penso que a decisão das indústrias e governos é ilógica, irracional e interesseira. 

Os proprietários que discutiram o uso de óleo 10W-60 em motores V8 de seus séries M5 nos EUA simplesmente constataram um fato:

O motor funciona melhor com óleo mais viscoso dentro de certos limites e ao que tudo indica o 10W-60 está dentro desses limites — assim como a adoção do óleo 15W-50 para os motores das motos F800 resolveu um problema e uma reclamação comum dos proprietários.

Por que essa solução não é universalizada?

A bmw precisaria explicar porque os proprietários chegam a conclusões que os engenheiros deles não chegam...

A bmw do Brasil precisa explicar qual o motivo de induzir seus clientes a consumir o óleo 5W-30 de viscosidade inadequada para nosso clima tropical — quando deveria estar induzindo ao uso de pelo menos uma ou duas categorias acima, 10W-40 ou 15W-50.

E se o 10W-60 se deu bem no hemisfério norte, provavelmente na região da Califórnia que é bem próxima em temperaturas de nosso Brasil, por que não seria melhor para nós por aqui?

E não só para os veículos série M, mas também para os com motores de menor potência como os bmw 120i e 320i da reportagem da 4 Rodas citada ontem.

A bmw precisa explicar o motivo pelo qual o critério de adaptação da viscosidade à temperatura local que valia em 1995 não vale mais hoje:
Manual de proprietário de veículo bmw 1995, nem me lembro mais onde encontrei... Mas é uma beleza de tabela para mostrar como usar óleo 5W-30 (e 5W-20 ou 0W-20 aqui no Brasil é uma tremenda forçação de barra...

Não me venha com a desculpa de que "os óleos evoluíram" — isso é desculpa pra boi dormir.

Os óleos evoluíram em aditivos, mas as leis da Física não mudaram.

As leis que regem a formação dos filmes de óleo dos mancais hidrodinâmicos continuam as mesmas — óleo mágico que anula essa necessidade de adaptação à temperatura ambiente é somente marketing.

Um óleo que era bom para temperaturas abaixo de zero grau Celsius como o 5W-30 não pode ser ideal para temperaturas quarenta graus acima disso. 

Questão de lógica.

A perda de viscosidade em função da temperatura dos óleos multiviscosos pode ser menor nos dias de hoje, mas continua existindo.

Basta ver a durabilidade dos motores há quarenta anos e atualmente. 

Mas como a bucha quase sempre explode no colo do segundo proprietário, ninguém se sente no direito de reclamar, afinal ninguém sabe como o primeiro dono tratou o carro...

A resposta é fácil — ele fez todas as revisões em concessionária e usou o óleo recomendado pela fábrica...

Só fica chato para os fabricantes quando a bucha começa a estourar na mão dos primeiros proprietários, aí a imagem da empresa pode ser abalada... 

E nada disso precisaria acontecer, nenhum proprietário precisaria passar por situações estressantes, perigosas e, no caso das motos, potencialmente mortais — bastava usar o óleo correto definido por critérios de engenharia, e não de marketing.

A bmw precisa explicar por que o manual das Séries M3, M5, M6 e Z8 diz que a viscosidade 5W-40 também é aceitável, mas seu site induz o uso de óleo 5W-30.

Outra coisa que a bmw precisa explicar é o motivo de recomendar em seu site o óleo 10W-60 para TODOS os motores da Série M3 até 2012 quando ele não era recomendado no ano de 2001 — ah, não precisa não, foi por causa das bronzinas tão mal faladas.

Mas ainda falta a bmw explicar porque o manual do M3 Coupe 2012 com o mesmo motor 6 em linha que já usava o 10W-60 voltou a recomendar óleo 0W-40, 0W-30, 5W-40 e 5W-30:
Manual de proprietário: bmw M3 Coupe 2012 https://www.bmwsections.com/docs/m/

E lembrando, explicar essa contradição de o site da bmw dizer que o 10W-60 é o óleo recomendado para TODOS os M3 fabricados até dezembro de 2013, inclusive o M3 Coupe 2012, contrariando o manual do proprietário.

O que a bmw precisa explicar é o motivo de os proprietários de autos com motor V8 estarem felizes da vida usando óleo 10W-60...

Por tudo isso, mantenho a denúncia:

Há todo um interesse em induzir o consumo de óleos inadequados para as temperaturas aqui no Brasil, e isso está custando caro para os proprietários que estão sendo lesados.

A próxima postagem será sobre a renault e o curioso "engano" de informar uma viscosidade de óleo mais correta no manual e as concessionárias colocarem óleo menos viscoso...

Ou seja, fazendo o mesmo que a bmw.

Um abraço,

Jeff envergonhado por ter deixado escapar essa gafe na postagem de ontem