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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Os erros 'bobos' das montadoras que ameaçam vidas

Não é mesmo incrível que tantos fabricantes de carros e motos cometam erros tão 'bobos' como esses relatados desde a semana passada?

Até parece que eles não pensam para lançar um produto novo no mercado, né?

Você corre o risco de comprar na maior inocência um carro (ou motocicleta) novo em folha equipado com uma falha grave de projeto ou erro idiota de fabricação, como vimos nas postagens anteriores.

Ou então — acredite se puder — equipado com uma inovação tecnológica de segurança que é uma armadilha mortal.
Imagem: http://g1.globo.com/carros/noticia/2016/04/chinesa-geely-interrompe-operacoes-no-brasil.html

A geely ficou pouco tempo no mercado brasileiro, vendeu apenas 1.000 carros dos modelos EC7 e GC2.

Não sei se o modelo sedã EC7 vendido aqui já contava com esse "recurso de segurança" jéniau bolado lá na China:

Alguém achou que seria uma boa ideia adicionar um recurso de segurança "inteligente" chamado BMBS.

BMBS quer dizer Blow-out Monitoring and Brake System, sistema de monitoramento de estouro (de pneus) e freio. Hummm... deveria ser braking, frenagem.

Caso um borrachudo estoure (algo que deve ser comum lá na terra dele), o BMBS aciona os freios automaticamente sem ação do motorista!

Você compra um carro sem saber que era dotado de um recurso "inteligente" — que você nem teve chance de dizer que não queria, porque o modelo é completo e o BMBS era "item de série".

Imaginou a стая попугаев lá na Dutra, BR-116, BR-101?

Você a 100 km/h, o pneu se esvazia e seu carro tem a péssima ideia de estancar na frente de um volvão bitrem carregado... 
Imagem e reportagem (não foi um geely): http://ong-alerta.blogspot.com.br/2010_07_01_archive.html — A propósito, acabei de descobrir que a geely comprou a divisão de automóveis da volvo que já pertencia à ford... bizarro.

Frear quando um pneu estoura é a PIOR coisa — seguir em linha reta diminuindo lentamente a velocidade, ir para o acostamento com suavidade e parar em segurança seria muito mais adequado...

E no Brasil tem mais uma particularidade: 
Reportagem: http://tomribeiro.blog.br/bandidos-colocam-pregos-em-laranjas-para-furar-pneus-de-veiculos-nas-rodovias/

A bandidagem fura teus pneus para te obrigar a parar e o teu carro entrega o jogo...

Inovações impensadas perigosas e falhas graves de projeto e execução ocorrem tanto nas pequenas quanto nas grandes montadoras.

Nem a mercedes benz — NEM A MERCEDES-BENZ — escapa dessa lista.

Conhece os carros da estrela de três pontas com chicotes de fiação elétrica biodegradáveis?
Imagem e reportagem: http://jalopnik.com/5570865/11-terrible-automotive-engineering-decisions/

Aprovaram uma lei lá na Alemanha no final do milênio passado de que os carros teriam de usar uma porcentagem de materiais biodegradáveis para salvar as foquinhas o planeta.

Os engenheiros da m-b tomaram uma decisão muito conveniente:


Fios elétricos
Fios elétricos com isolação plástica biodegradável — o que poderia dar errado?

Eles especificaram fios com capas de plástico que apodrecem naturalmente com o tempo, olha que tecnologia maravilhosa!

Passa o tempo, tipo uns dez anos e aquilo que impedia os fios de encostarem um no outro ou onde não devem já virou cocô e pum de bactéria. Gás metano (pum) não é um poluente e não gera efeito estufa, magina, quiéisso....

Você todo pimpão no seu mercedão seminovo e começa a pipocar curto-circuito de fio com fio e de fio com a lataria em tudo que é lugar, pifando uma hora uma coisa, outra hora outra. Haja fusível, fita isolante e extintor de incêndio.

Aí perde o T de ter um carro com menos de 10 anos mais bichado que o fuca bala do vizinho...

E acaba morrendo (de novo) numa mala preta da pleura porque "mercedes é status, mercedes é qualidade", custa muita grana mesmo. Mas as coisas são assim mesmo, fazer o quê?

Fizeram isso por burrice? Negativo! 

Obsolescência planejada com a desculpa de ser uma empresa ecológica posando de amiguxa do meio ambiente. 

Mas burrice e incompetência são fatores que nunca podem ser totalmente descartados.

Está aí a honda para dar seu testemunho de que grandes montadoras conseguem aprontar uma корова admirável pelos motivos mais idiotas.
Imagem e reportagem: http://blog.caranddriver.com/2016-honda-civic-recalled-for-engine-failure-fires/

A honda dos EUA chamou recall em 2016 porque esqueceram de colocar ou montaram errado a travinha do pino do pistão...

Pistão e biela soltos podem travar e rachar o bloco do motor, causando vazamento de óleo sobre o escapamento e iniciando um incêndio no cofre do motor... Onde foi que eu já vi isso? Ah, na postagem de ontem...

No início a conversa era de que o problema afetou somente um pequeno número de motores...
Reportagem: http://blog.caranddriver.com/honda-orders-stop-sale-on-2016-civic-official-recall-pending/ — 2 de fevereiro de 2016

Depois revelaram que "os anéis de trava dos pinos dos pistões podem não estar completamente assentados" na verdade queria dizer "podem estar instalados na posição errada ou faltando inteiramente":
Reportagem: http://blog.caranddriver.com/2016-honda-civic-recalled-for-engine-failure-fires/ — 24 de fevereiro de 2016

Como a concessionária descobre se esqueceram de instalar ou montaram errado os anéis de trava dos pistões?

Se alguém souber de outra maneira que não seja desmontando e abrindo completamente o motor para olhar os pistões me diga, porque eu não conheço outro jeito...

Mas foi um recall pequeno, só 42.000 unidades do modelo recém lançado.

Ano passado a ford dos EUA fez um recallzinho para 90 mil carros porque instalou uma bomba de combustível que parava de funcionar de repente... Será que testaram essa joça?
Imagem e reportagem: http://www.technobuffalo.com/2016/08/24/ford-recalls-more-than-90000-cars-says-engines-prone-to-stalling/

... e em 2015 fez o recall de 800 mil carros porque as portas se abriam sozinhas com o carro em movimento...
Imagem e reportagem: http://www.ibtimes.com/ford-motor-recalls-520000-ford-fusion-sedans-lincoln-mkz-luxury-cars-ford-edge-1901476

... e também chamou de volta mais 520 mil carros porque a direção elétrica pifava por causa da corrosão dos parafusos de fixação que não resistiam ao sal aplicado para impedir a formação de gelo na pista.

Detalhe: 
Detroit Free Press

A sede mundial da ford na terra onde nasceu, viveu, fundou, deu o sobrenome à empresa e hoje está rolando de raiva a sete palmos o seu Henry fica na região de Detroit, Michigan — esse lugar aqui, ó:

Bem que eu estava sentindo falta da ford nestas postagens....

Eu poderia continuar citando outros erros bobos, mas são tantos e de tantas montadoras... garanto que não escapa ninguém.

Não é essa a imagem que fazemos das grandes fabricantes, não é?

Todos conhecemos as nobres intenções das empresas, oferecer seus produtos com a maior qualidade pelos melhores preços... Melhores pra quem?

Quem pensaria mal delas?

Somente alguém com muita maldade no coração suspeitaria que essas etapas de projeto, controle de qualidade e produção de motores e veículos foram negligentes, apressadas... e em alguns casos com segundas, terceiras e quartas intenções inconfessáveis. 

Somente um euspírito de porco acusaria as empresas de responsáveis por criar condições de trabalho e metas que causam os 'erros' de seus funcionários.

Mas o fato é que recalls por motivos bizarros como esses surgem de 'erros' em consequência de decisões de diretoria e gerenciais tomadas nas empresas.

As montadoras enxugam o tempo todo cada centavo possível das peças, prazos e processos de produção a fim de atingir metas inatingíveis.


A pressão por esses resultados leva a uma economia vergonhosa.

E quando as coisas dão errado, os fatos são encobertos o máximo possível. 

Sempre douram a pílula falando em "pequenos problemas", "poucos veículos", "pura precaução"... 

Depois quando o vexame e o prejuízo são grandes demais, aí vira "culpa dos proprietários"... nunca vi eles assumirem que foi desleixo puro deles mesmos.

Você pensa que a gm aprendeu a lição de que amoitar os fatos não compensa?

Pensa que eles aprenderam alguma coisa com o escândalo do Fiero visto ontem?

Negativo, eles continuaram amocambando informações sobre a gravidade de problemas fatais, tudo em nome de uma economia porca.
Reportagem: https://carros.uol.com.br/noticias/redacao/2014/04/01/recall-do-malibu-deve-complicar-situacao-da-gm-em-cpi-nos-eua.htm — É o recall do Malibu, mas por causas dos cintos de segurança... aqueles da postagem anterior das bielas fugitivas nunca foram chamados pela fábrica, foram amoitados.

Ou tem outro nome a economia de uns poucos centavos nas molinhas de cada miolo de ignição que a general motors fez e que resultou em uma centena, talvez centenas de famílias destruídas?
Reportagem: http://www.estadao.com.br/jornal-do-carro/noticias/servicos,gm-reconhece-mais-sete-mortes-por-falha,24269,0.htm

Os centavos poupados resultaram em 97 mortes nos EUA até maio de 2015, fora as lesões — felizmente o Brasil ficou fora disso. Tema para postagem futura. 

Até a data dessa notícia a gm havia recebido 474 pedidos de indenização por mortes, 289 por lesões e 3.579 por ferimentos em que os motoristas e passageiros foram parar no hospital. 

Ferimentos graves que resultaram em tetraplegia, paraplegia, amputações, danos cerebrais permanentes ou queimaduras generalizadas. 

Parabéns, engenheiros, gerentes e diretores da gm! 

Já em 2005 pensavam em soluções para o problema e a empresa se recusou a consertar por causa do "aumento de custo inaceitável"!
Reportagem: http://www.foxnews.com/politics/2014/04/01/victims-relatives-demand-answers-from-gm-over-death-trap-cars.html

Economizaram 57 centavos de dólar em cada miolo de ignição, cerca de 2 reais atuais em cada carro!

O conserto da peça em si era barato, o que iria custar caro era o dano para a imagem da marca se convocasse o recall preventivo que evitaria mortes... 

Acabaram sendo obrigados a convocar o recall de 2,6 milhões de automóveis, indenizar centenas de famílias e milhares de feridos, dando um prejuízo aos acionistas da empresa de mais de 4 bilhões de dólares

Isso fora os recalls de outros 28 milhões de carros e caminhões por outros motivos naquele ano.

Foram 13 recalls em 2014.

Um deles de 1,4 milhão de carros no mundo todo porque o sistema de direção de nova tecnologia elétrica em vez de hidráulica falhava de repente e "algumas colisões com pessoas feridas podem ser relacionadas à perda da assistência elétrica".

PA-RA-BÉ-NS, GM. Não se separa o NS, mas eles merecem.

Não há dinheiro de indenização que pague uma única vida.

Se os fatos tivessem sido divulgados, centenas de pessoas não teriam morrido.

Não tenho nada pessoal contra a gm, minha família já teve chevrolet. Assim como ford, vw, fiat, renault, honda, piaggio e dafra — e nunca tivemos problemas assim tão graves.

Mas o que me incomoda é ver que nenhuma montadora, seja de carros ou motos, escapa de colecionar esqueletos — figurados ou não — cada vez mais rápido e por motivos mesquinhos.


Imagem: disney.wikia.com
A negligência na inspeção de bielas e limpeza dos cavacos dos motores da gm, hyundai, kia e talvez harley ocorreu porque as montadoras economizaram alguns segundos na linha de montagem — ou não fizeram seu trabalho direito.

O esquecimento e montagem incorreta dos anéis de trava dos pistões da honda resultou de falta de treinamento e falta de controle de qualidade do processo.

A mercedes usar fiação que objetiva se decompor vai contra todos os princípios de qualidade. Se isso não foi intencional, revela um desconhecimento da realidade do mundo aterrorizante por parte da nova geração de engenheiros...

A ford soltar carros no mercado que não conseguem manter as portas fechadas, bombas de gasolina que falham no primeiro ano de uso, componentes fixados com parafusos que não aguentam uma condição normal e bem conhecida por seus engenheiros...

Isso mostra a pressa com que são desenvolvidos os novos projetos sem os devidos testes de resistência e durabilidade — recall virou algo absolutamente normal, quando deveria ser a coisa mais rara do mundo.

O uso de óleos inadequados e em quantidade insuficiente surgiu devido à intenção de fabricar motores verdinhos e ecológicos consumindo menos combustível e lubrificantes com menor custo de manutenção para os proprietários e o bem de nosso meio ambiente... Ah, conta outra, vá!

A redução do cárter e da quantidade de óleo do Fiero ocorreu porque era uma solução mais barata do que construir um motor específico para as necessidades do modelo.

E também mais barata do que reprojetar o compartimento do motor — coisa que acabaram tendo que fazer porque lá as instituições governamentais são sérias.

A incompetência na tomada de decisões de quem olhou para 57 centavos e não olhou para as consequências de deixar os ocupantes dos carros morrerem... isso me deixa muito revoltado.

Mas as leis da Física e da Mecânica são implacáveis e, já dizia aquele cara do filme, дерьмо случаетсяAinda mais nesse ramo.

O fato é que, acredite você ou não, é desse jeito que a banda toca no mundo todo — e há muito, muito tempo.

Mas hoje vamos parar por aqui.

Se quiser continuar se divertindo com as mancadas sobre 4 rodas, leia esta reportagem do site Flatout sobre os recalls mais estranhos e bizarros da indústria automotiva. Lá não tem nenhum repetido...

Na próxima postagem vou falar de coisas mais próximas da gente — recalls por falhas de projeto e fabricação assustadoras que estão acontecendo com carros aqui mesmo no Brasil.

Um abraço,

Jeff

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Fabricantes de carros mudam as regras no meio do jogo — qual o nome disso?

Houve um tempo, e não muito distante, em que mudar as regras no meio do jogo podia acontecer por um de dois motivos:

1) A mudança das regras podia ocorrer com o propósito de dar uma vantagem para o time / jogador sensivelmente mais fraco, e nesse caso era uma atitude de nobreza por parte da equipe mais forte / jogador em vantagem. 

2) Ou então essa mudança era feita para beneficiar exclusivamente uma das partes, de maneira injusta. Isso era considerado abominável por todo mundoera chamado de trapaça.

O motivo desta postagem é a descoberta feita pelo leitor Deivisson Nobre, publicada na postagem A maneira errada de trocar o óleo, e a moto que consertaram uma coisa e pifaram outra, que transcrevo a seguir:

Engraçado, Jeff, que fui ler o manual do carro da minha mãe, Fiat Novo Uno, e até no carro pede pra medir o nível do óleo com o motor quente.

[O manual] fala pra medir após 10 minutos que o motor for desligado, e eu sempre achei que media com o motor frio... [você e todo mundo, Deivisson...]

Testei e dá diferença, com motor frio a vareta estava no máximo e fazendo o procedimento correto o nível baixava 1/5 da medição.

O Deivisson fez a gentileza de me enviar a página do manual do proprietário para que todos comprovem a denúncia:

O controle do nível de óleo deve ser efetuado com o veículo em terreno plano e com o motor ainda quente (cerca de 10 minutos após tê-lo desligado). 

E não foi só a fiat que mudou as regras do jogo no meio do campeonato. Olha só o que eu encontrei em um blog sobre o motor do nissan March:

Imagem: http://marchok.blogspot.com.br/2012_08_01_archive.html

E antes que alguma тапир comece a caluniar o autor daquele blog, eis a página do manual do proprietário:
Se bem que publicar a página do manual do proprietário não ajuda muito, тапир que é тапир de verdade continua não acreditando.

Como você pode ver, um procedimento muito parecido àquele que os fabricantes de motos recomendam. 

Agora juro que eu pagava para ver a cara do pessoal que diz que o procedimento de medição do nível de óleo da moto é "igual carro, pela manhã sem ligar o motor"... Hahahahaha... ai, deu cãibra...

O que descobrimos hoje?

Que acabou aquela história que você estava acostumado: 

Os fabricantes mudaram um procedimento consagrado há um século, e trocaram por outro que a imensa maioria dos consumidores nunca ouviu falar, sendo que a imensa maioria não lê e não lerá seu manual do proprietário. Ora, o que poderá dar errado, Murphy?

Os fabricantes de automóveis mudaram a regra no meio do jogo, sem fazer alarde, da mesma maneira que os fabricantes de motocicletas fizeram.

Em vez de medir o nível do óleo com o motor frio pela manhã, com todo o óleo escoado para o cárter — um critério universal impossível de errar ou causar confusão — alguns fabricantes passaram a exigir que o óleo seja medido completamente a quente (caso do novo fiat Uno e sabe Deus de quem mais) ou em um estágio intermediário (caso do nissan March e sabe Deus de quem mais) e dentro de um prazo determinado por eles.

Como eu disse lá em cima, há algum tempo atrás mudanças de regra no meio do jogo só tinham duas possibilidades:


Ou eram abomináveis, porque prejudicavam o lado mais fraco; ou visavam a auxiliar o jogador em visível desvantagem. Mas isso era antigamente.


Hoje vivemos em um admirável mundo novo e cheio de nuances. É a modernidade.

O sistema antigo é universal e muito prático — medir o nível do óleo com o motor totalmente frio garante uma constância dos fatores temperatura e descanso do motor, não queima a mão de ninguém e garante resultados exatos.

Você mede o nível com exatidão antes de começar o dia, antes de começar uma viagem.

Não precisa aguardar tempo algum, basta abrir o capô pela manhã e conferir a situação real do nível de óleo, sem risco de se queimar, de ser atingido pela ventoinha ligando automaticamente, e sem depender de condicionantes de tempo.


Já com o novo sistema:


Medir o nível com o motor quente exige parâmetros adicionais — você precisa aguardar 10 minutos, nem mais nem menos, para obter o nível correto.

Você precisa mexer em um motor quente, com cuidado para não se queimar.

Há um detalhe que faz toda a diferença:


O óleo está dilatado pelo calor do motor, portanto o nível medido com o motor completamente aquecido não corresponde ao nível medido com o óleo frio.


As marcas da vareta medidora poderiam ser feitas em qualquer altura, portanto em qualquer condição de uso do motor... mas os fabricantes optaram por fazer as marcas para um nível correspondente ao prazo de 10 minutos de escoamento do óleo para o cárter.

Por quê 10 minutos? 

Qual o benefício desse prazo?

Dez minutos é um prazo que inviabiliza a conferência rápida no posto de gasolina. Não traz vantagem alguma.

Passados 10 minutos, nem todo o óleo escoou para o cárter. O retorno do óleo é um processo longo e contínuo, que leva muitas dezenas de minutos, senão horas.

Se você não aguardar 10 minutos, ou se você ultrapassar o prazo de 10 minutos, a leitura será inexata.

Analise agora o caso da nissan:

O procedimento é muito similar ao das motos, a medição é feita com o motor em uma temperatura que não é totalmente quente, mas também não é totalmente fria.

O óleo não chegou a se dilatar tanto quanto em um motor que acabou de chegar em casa.

Os procedimentos "modernos" exigem que você se lembre de realizá-lo 10 minutos depois de chegar em casa, ou então gaste 15 minutos pela manhã aquecendo e esperando o óleo escoar.

Os procedimentos "modernos" consomem um tempo que hoje em dia ninguém tem.


Ao chegar em casa você tem uma pá de coisas para fazer, como abrir a porta para as crianças, sair correndo atrás do cachorro que escapou, descarregar as compras... 
...cumprimentar o vizinho e zoá-lo porque o time dele perdeu de lavada para o Figueirense, e por último, e mais importante, tirar a água do joelho — você não vai se lembrar de cronometrar 10 minutos exatos para medir o nível do óleo. 

E antes de sair de casa, quem é que pode se dar ao luxo de desperdiçar 15 minutos fazendo um procedimento de medição do nível do óleo?


O procedimento anterior era direto, rápido, simples e objetivo.


Com essa mudança não noticiada, milhões de proprietários continuarão a medir o nível de óleo como sempre fizeram — basta ver o que acontece com as motocicletas, todo mundo mede o nível da maneira errada. E é difícil convencer o pessoal da besteira que estão fazendo. ""Sempre foi assim!" "1 litro é 1 litro".

Qual a consequência disso?

20% da faixa de medição não são suficientes para fundir o motor de imediato, mas nível de óleo abaixo do ideal é um fator que acelera o desgaste do motor.

Nas motos, principalmente as arrefecidas a ar, isso reduz à metade a vida útil do motor.

Nos carros isso aparentemente não é tão grave como nas motos pequenas; a falta de 200 a 300 ml de óleo mascarados pelo procedimento de medição em uma faixa de segurança de 1 litro, com mais 2 a 3 litros no cárter, ainda não compromete o motor — se ele estiver com a quantidade correta de óleo, ou seja, se o nível estiver próximo à marca de nível superior.


Mas o que acontecerá na hora em que o proprietário conferir o nível de óleo da maneira errada, e encontrar o óleo aproximadamente na metade da vareta?

A leitura será falsa, indicando um nível de óleo que não existe; na verdade o óleo já estará no mínimo, implorando reposição, mas o proprietário não descobrirá e continuará a rodar normalmente em condições prejudiciais ao motor.

Além disso, existe outra coisa a ser verificada:

É fundamental ver se a quantidade recomendada pelo fabricante realmente deixa o nível de óleo na marca de nível superior, onde ele sempre deve ficar.

Se eu fosse proprietário de automóvel, me certificaria quanto a isso.

EU MEDIRIA O NÍVEL DE ÓLEO IMEDIATAMENTE DEPOIS DA TROCA, independente de ser feita em concessionária ou posto de gasolina.

Eu faria exatamente o procedimento descrito no manual, ligaria e desligaria o motor sempre aguardando os prazos determinados...


E comprovaria se os fabricantes de automóveis também não adotaram a prática de recomendar uma quantidade de óleo insuficiente para atingir o nível superior da vareta medidora...


Veja o texto destacado em azul no manual da fiat...


ADVERTÊNCIA: depois de ter adicionado ou substituído o óleo, funcionar o motor por alguns segundos, desligá-lo e só então verificar o nível do óleo.


Será que a quantidade recomendada deixa o nível de óleo realmente na marca de nível superior, garantindo a faixa de segurança?


Ou será que o nível de óleo fica lá embaixo, já pedindo reposição e facilitando com que seu motor se desgaste precocemente por falta de óleo? O macete "se por acaso o nível estiver baixo, complete"...

Fizeram isso com as motos, não fizeram?


A consequência virá apenas a médio prazo, e o gasto com peças de reposição sobrará para o proprietário.

Mas ele nem perceberá, porque já compra o veículo pensando em vendê-lo antes que comece a ter problemas — problemas causados pelo fato de o motor sempre trabalhar com o nível de óleo abaixo do ideal.

Ele nem percebe que está pagando um preço bem alto por conta dessa modernidade do modo de medição adotada pelos fabricantes, da mesma forma que acontece com as motocicletas.

Poucas dezenas de reais que não são investidos na manutenção e que depois se transformam em milhares de reais na aquisição de um carro novo. Ou moto nova.

— Que é isso, Jeff... você está dizendo que empresas sérias como essas fariam algo assim tão danoso aos seus clientes?

Só para refrescar a memória, informar os desinformados e não deixar que alguns escândalos sejam esquecidos:


Reportagem: http://www.autohoje.com/index.php/noticias/noticias/item/50128-ford-quer-esquecer-escandalo-dos-pneus-firestone  

A ford sabia do problema de explosão dos pneus do Explorer e, em vez de alertar imediatamente os clientes sobre o perigo que corriam, ficou trocando e-mails com o fabricante dos pneus durante vários meses para decidir quem assumiria o prejuízo pelo recall.


Reportagem: http://www.csrconnected.com.au/2013/04/my-biggest-mistake-what-we-all-can-learn-from-the-ford-pinto-case/  em inglês
Já no caso do ford Pintofamílias eram queimadas vivas pelas estradas dos EUA enquanto a ford fazia uma análise para considerar os custos e benefícios de convocar o recall, contabilizando a expectativa de pagar indenizações por explosão do tanque de combustível inseguro e mal localizado. O que são algumas centenas de vidas em comparação com a meta de faturamento da empresa? 

Reportagem: http://quatrorodas.abril.com.br/autoservico/autodefesa/conteudo_295052.shtml

Aconteceram muitos e muitos casos, a fiat nunca admitiu que o carro tivesse problemas. Os donos diziam que a roda se soltava e causava o acidente, a fiat alegava que a roda se soltava por causa do acidente. Sério, falaram isso. Foi até tema de reportagem da revista Quatro Rodas.

Reportagem: http://carros.uol.com.br/noticias/redacao/2015/05/12/gm-ja-contabiliza-100-mortes-em-escandalo-de-defeito-na-ignicao.htm  

A mola do miolo do interruptor de ignição era fraca e, com um chaveiro pesado, a chave escapava com o carro em movimento, travando a direção, desligando o motor e desativando o servofreio. A gm sabia do problema há anos e não tomou atitude alguma até que o escândalo se tornou público. O último registro fala em 121 mortes.

Imagem: Aproveite para vê-la aqui, porque foi misteriosamente removida da página da Wikipedia sobre o assunto...

A toyota economizou grana eliminando a etapa de testar os veículos antes do lançamento. Os tapetes travavam o pedal do acelerador em aceleração máxima causando acidentes fatais. Tiveram de fazer um acordo de indenização bilionário depois que o escândalo se tornou público. 

 Fonte: http://serkadis.com/index/347050
Fonte: http://www.car.blog.br/2015/07/honda-civic-city-fit-e-cr-l-sao.html
Reportagem: http://omundoemmovimento.blogosfera.uol.com.br/2015/07/28/defeituoso-airbag-da-honda-so-sera-substituido-em-novembro/  

Caso o airbag seja acionado, os ocupantes podem sofrer lesões por estilhaços no pescoço, causando hemorragia fatal — sabia disso? Solução só daqui a alguns meses. Se não fosse a pressão do governo dos EUA, o assunto dos airbags matadores teria ficado por vários anos somente nos relatórios e estatísticas. 
Reportagem: http://www.car.blog.br/2012/11/hyundai-e-kia-escandalo-com-dados.html

hyundai e kia tiveram de indenizar os proprietários nos EUA porque seus carros consumiam mais do que os relatórios enviados para a homologação e a propaganda afirmavam. Já pensou se a moda pega no Brasil? 

Reportagem: http://meiobit.com/327018/volkswagen-teria-feito-o-software-de-500-mil-carros-trapacear-em-testes-de-emissoes-oxido-nitrico-nos-estados-unidos/ 
Reportagem: http://economia.terra.com.br/acoes-da-volkswagen-despencam-em-meio-a-escandalo,edecc40d41a280495e66b06b16226f069kdc77r1.html
Reportagem: http://g1.globo.com/carros/noticia/2015/09/volkswagen-admite-que-11-milhoes-de-carros-tem-software-que-frauda-testes.html

Se a vw não fosse flagrada pelo governo dos EUA, ninguém iria descobrir que doenças seriam causadas por uma artimanha esperta para mascarar o desempenho do carro... sem contar aquele lance dos motores do Gol G5 pipocando...

Se não tiver tempo de ler todas as matérias, veja pelo menos o caso dos rolamentos das rodas do fiat Stilo e o escândalo desta semana na matéria do Cardoso. 

Pois é, senhoras e senhores, meninas e meninos...

Me desculpem por acabar com sua ilusão...

A regra do jogo é ter lucro — consumidores são mera estatística.


A quem beneficia essa mudança no procedimento de medição do nível de óleo que os fabricantes de automóveis fizeram?

Avalie você mesmo se ela se destina a dar vantagem ao consumidor — o jogador mais fraco, o time em desvantagem. 

Eu tenho minha opinião a respeito e os leitores habituais do blog sabem qual é.

Não considero que essa alteração que os fabricantes fizeram seja pura e simplesmente uma trapaça — ninguém pode acusá-los disso.

Afinal, eles estão informando os clientes, que não se dão ao trabalho de ler o manual do proprietário.

Trata-se apenas da esperteza dos fabricantes e a ingenuidade do povo, agora em versão 4 rodas.


Só lembrando, ser esperto não é crime.


Ser ingênuo também não, mas isso pode te dar enormes prejuízos — além de potencialmente colocar a vida de proprietários e suas famílias em risco.

Fique esperto com veículos de duas ou de quatro rodas... confie apenas em você mesmo.


Aprenda a interpretar a saúde mecânica do seu veículo e conheça os fundamentos das práticas de manutenção para não ter prejuízo nem arriscar sua vida.

Tenho muita pena daqueles proprietários com quem converso e me respondem com desdém "nem sei quanto óleo vai, deixo tudo na mão do mecânico"...

A vigilância do dono é que faz carros e motos engordarem. Ou algo assim.

Um abraço, e um agradecimento especial ao Deivisson, que descobriu mais esse macete que tomei a iniciativa de denunciar,


Jefferson