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terça-feira, 7 de novembro de 2017

Os erros absurdos da literatura técnica da Chopper Road (e também alguns pontos positivos sobre a moto)

Prosseguindo com a série de postagens sobre a nova haojue Chopper Road 150, vou falar das coisas francamente erradas publicadas pela haojue em seu manual do proprietário e também no catálogo de peças.

Alguns desses tropeços são graves e podem colocar os ocupantes da moto em risco como a recomendação de colocar 800 ml de óleo em um motor com capacidade para 1.200 ml abordada na postagem anterior, e outros que serão apontados nas próximas postagens.

Se a haojue pretende ganhar mercado em relação à dafra Horizon 150, sua única concorrente 'custom' no mercado, não pode cometer a mesma pegadinha de indicar menos óleo do que o mínimo necessário.

Um ponto positivo é que tanto o manual do proprietário quanto o catálogo de peças estão facilmente acessíveis em links no site da haojue, uma atitude elogiável da empresa.
Imagem: Site da haojue Chopper Road 150 no link site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/ 

Geralmente o pessoal dificulta encontrar o link para o manual e disponibiliza os catálogos de peças somente para os concessionários.

Vou começar com os tropeços do catálogo de peças, que são novidade, para depois comentar o manual do proprietário...

Se prepare que aí vêm coisas muito, muito bizarras...

Antes de tudo, um ponto positivo: a disponibilização do catálogo de peças...

Para quem não conhece, o catálogo de peças é a informação passada pelas fabricantes aos concessionários para facilitar a identificação dos componentes da moto na hora de vender peças de reposição.
Imagem: Catálogo de peças com link no site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/

Esse catálogo é muito útil para o vendedor localizar para você as peças necessárias para um reparo.

Ele também permite saber coisas interessantes, por exemplo:

Apesar de o conjunto carburador ser mostrado com diversos componentes, nenhum deles pode ser comprado avulso.

Não existe o chamado kit de reparo do carburador. Irão lançar no futuro?

Não há nenhum giclê, nenhum anel de vedação, mola, agulha, boia, válvula, junta, nada para venda avulsa — apenas componentes universais ou que nunca se gastam.

Ao longo dos anos o carburador terá algum desgaste normal de componentes como giclês, válvulas ou boia, e você terá de trocar o conjunto inteiro — a menos que encontre peças compatíveis no mercado. 

Isso pode até ser preferível dependendo da capacitação técnica de quem estiver mexendo na sua moto, mas se você quiser economizar comprando as peças avulsas, terá de procurar fora da concessionária — ou então pagar a fatura do carburador completo. 

Por outro lado, um carburador trocado a cada 5 anos também não é o fim do mundo. Jezebel já está no seu segundo carburador, e também no segundo cilindro mestre do freio dianteiro. Em breve estará com o terceiro cilindro mestre, mas isso é assunto para outra postagem.

Tropeço nº 1: a tradução do catálogo de peças...

O catálogo de peças é um documento da mais alta responsabilidade, mas infelizmente não recebeu o respeito merecido.

O desconhecimento abismal de quem "traduziu" a literatura técnica dessa moto é assustador...

Não é um problema apenas de tradução. 

Se fosse, seria até compreensível, dada a dificuldade de traduzir os nomes das peças do Chinês para o Português usando o tradutor do google.

Quem fez o material não tem a menor ideia de como funciona um motor de moto, nem conhece o nome e a função de cada componente.

E o material não foi revisado por alguém com conhecimento técnico, o que deixa esse catálogo bem abaixo dos padrões mínimos da indústria.

Compare a vista dos componentes "pescador de óleo, mola da bomba de óleo e tampa da bomba de óleo" da figura 3 (no destaque vermelho) com a vista do conjunto da "pomba de óleo" (sic) da figura 14: (fiz uma montagem destacando os dois para facilitar.)
Imagem: Catálogo de peças com link no site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/

Essas peças atribuídas à pomba bomba de óleo não têm relação alguma com ela... 

Os itens 14 a 17 constituem o filtro de tela do óleo do motor, aquele que você mesmo abre e limpa a cada troca de óleo.

O "pescador de óleo" é a tela — basicamente, o próprio filtro. 

A "mola da bomba" é a mola do filtro. A "tampa da bomba" é a tampa do filtro de tela do óleo.

Não tem bomba nessa parada...

Imagens: Vista lateral externa esquerda e vista lateral interna direita de motores com componentes similares. 
http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2017/02/o-dia-em-que-honda-deu-um-tiro-no-pe.html e http://minhaprimeiramoto.blogspot.com.br/2017/10/o-que-tem-dentro-do-motor-da-sua-moto.html

O filtro de tela do óleo instalado externamente na tampa esquerda do motor não faz parte do conjunto da "pomba de óleo" instalada na carcaça direita do motor, debaixo da tampa da embreagem... Aliás, um verdadeiro crime ecológico colocar a pobrezinha espremida ali dentro. Coitadinho do bichinho

O filtro de tela do óleo é um dos componentes mais básicos do motor — um item de inspeção frequente em todas as revisões.

Todo ajudante de aprendiz de faxineiro de oficina de motos, por mais fuleira e boca de porco que seja, conhece esse filtro... mas não os responsáveis pela literatura técnica da Chopper Road. Decepcionante. Fizeram uma economia que não valeu a pena.

Além disso, o catálogo de peças causará dificuldades na hora de comprar peças de reposição.
Imagem: Catálogo de peças com link no site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/

A arruela do filtro centrífugo 24 virou "arruela da bomba de óleo"...

Alguém é capaz de explicar a existência de um suposto "pino da bomba de óleo" dentro do filtro centrífugo?

Bomba e filtro centrífugo são subconjuntos 'fechados' separados, e a única ligação mecânica entre eles não é feita por um pino dentro do filtro — mas por engrenagens externas aos componentes, como informado em azul na foto à direita acima.

E a bomba de óleo nem sequer tem um pino... isso está totalmente fora de lugar, erro de tradução puro e simples, mas que pode causar muita confusão.

Com um catálogo tão problemático, os vendedores terão muita dificuldade para localizar componentes na hora da venda... 

Os responsáveis por cometer essa tradução do catálogo de peças não conhecem as peças nem o funcionamento do motor, e não têm noções básicas de desenho técnico.

A Chopper Road é a única moto do mundo que não tem uma embreagem de partida... 

Pelo menos não com esse nome, porque ela é o subconjunto nº 9 identificado como "engrenagem de partida" na figura 5:
Imagem: Catálogo de peças com link no site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/

A embreagem de partida não é uma embreagem de atrito, como aquela que você usa para controlar o motor, mas basicamente um tipo de catraca.

Ela gira em uma única direção e serve para isolar o giro mais rápido do virabrequim em relação ao pinhão de partida quando o motor começa a funcionar.

O subconjunto da embreagem de partida possui 8 tipos de peças totalizando 11 componentes mostrados na figura, mas é identificado como apenas mais uma das muitas "engrenagens de partida" desse catálogo... 

No motor há somente três engrenagens de partida — motriz, movida e intermediária — que aparecem mais abaixo na figura 6.

Essa embreagem/catraca é um conjunto totalmente diferente de uma engrenagem de partida, compare:
Imagem: https://motos.mercadolivre.com.br/acessorios-pecas/engrenagem-da-partida-xr-200 - Esta embreagem de partida tem construção um pouco diferente, mas no geral todas têm esse conjunto de 3 ou 4 roletes com molas — coisa que uma engrenagem decididamente não tem.

Não dá para confundir uma com a outra.

A única vez em que a expressão "embreagem de partida" é mencionada em todo o catálogo é na seção "Encrenagem de partida" (sic).
Imagem: Catálogo de peças com link no site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/

Outra peça que será difícil de encontrar é o "rotor da engranagem" (sic) que na verdade é a carcaça do filtro centrífugo de óleo, o filtro de óleo principal do motor. 

A peça mostrada é a carcaça, não sua engrenagem de acionamento (que foi apontada como engrenagem de partida, item 8).

E essa engrenagem, apesar de aparecer ao lado da outra no desenho, não se engrena com a tal "engrenagem de partida" que na verdade é a embreagem de partida. Bizarro. Caótico.

Outra coisa:

Aquele conjunto de peças alinhadas desde o item 8 até o item 23 na figura lá de cima compõem o filtro centrífugo de óleo, não a bomba de óleo.

E ele é montado e instalado conforme a linha destacada em azul, do outro lado do motor em relação ao filtro de tela de óleo — aquele que foi chamado incorretamente de tampa, mola e pescador de óleo...

Um catálogo de peças com uma salada de erros tão graves dará muita confusão na hora de vender peças no balcão... Se eles não corrigirem isso, prepare-se para passar raiva na hora em que precisar de peças.

Aliás, deveriam ter corrigido antes de publicar, ninguém merece ler aquilo.

Tropeço nº 2: o descuido com a qualidade do manual do proprietário...

Tem coisas nesse manual que fazem parecer que quem fez a tradução só vê motocicleta quando o motoboy chega com as pizza e as coca. Eu sei. É piada de paulista. Posso brincar com erros de concordância aqui no blog, mas nunca em um documento que é a comunicação direta da empresa com os clientes.

O manual do proprietário da haojue Chopper Road é um verdadeiro festival de atentados ao nosso idioma mesmo nas concordâncias mais básicas...

Um descuido tão grande quanto à apresentação visual, um desrespeito aos clientes e até mesmo uma afronta à lógica...
Imagem: Manual de proprietário da haojue Chopper Road 150 com link encontrado no site https://haojuemotos.com.br/models/chopper-road-150/

"Quando o interruptor do indicador de direção é pressionado para a esquerda, vire à esquerda."??? 

O certo não seria "Mova o botão do indicador de direção para a esquerda a fim de sinalizar uma conversão à esquerda."

"lâmpada quebrada"... Lâmpada boa é assim: quebra, mas não queima!

"Indicador reset"... 


Por que "indicador"? 

Por acaso a moto tem uma luzinha que acende na hora em que você gira o botão de reajuste do hodômetro parcial para zerar a contagem? 

Não, não tem — se tivesse, ela poderia ser chamada de indicador.

Por que "reset"?

Por acaso o hodômetro parcial é eletrônico? E se fosse o caso de ser eletrônico, não existe a tradução "reiniciar"? 

"Indicador reset" é simplesmente "botão de reajuste".

"Apertar a vela com as mãos?"

Eu queria ver alguém usar as duas mãos para apertar a vela de ignição naquele espaço onde mal cabem dois dedos.

Decifrando o texto:

"tampa da vela" = "conector da vela de ignição"

"É aconselhável substituir os anéis de vedação quando o óleo do filtro de motor é alterado."...

Como assim, "óleo do filtro de motor alterado"???

Essa "instrução" é uma das coisas mais toscas que já li... 

A Road Chopper não tem filtro substituível, e não fica óleo retido no filtro de tela.

Onde é que entra o "óleo do filtro de motor" nessa estória?

Tentaram dizer para substituir o anel e a arruela de vedação do filtro de tela do óleo e do bujão de drenagem do motor em todas as trocas de óleo?

Por que não disseram isso de maneira inteligível? 

Usaram google translator? Bem feito!

E esse carburador de "evaporação estável" deve ser alguma tecnologia nova que substituiu a 'pulverização' estável do combustível... o correto seria aspersão, já que tecnicamente o combustível não vira pó, mas isso é algo que já desisti de convencer os engenheiros... é uma luta inglória.

O que a haojue chama de "evaporador de combustível" no catálogo de peças é um componente do sistema de controle de emissões poluentes, não tem nada a ver com o funcionamento do carburador em si.

Incrível que essa literatura "técnica" grotesca tenha sido aprovada por engenheiros experientes no mercado como os da jtz – jta – j. toledo... ou não passou pela mão dos engenheiros?

Espero que revisem esses volumes da literatura técnica o mais cedo possível, e não, não estou interessado em pegar o trabalho.

Eu ficaria tentado a me divertir com o assunto...
Em todos esses anos trabalhando nessa indústria vital, eu pensava que já tinha visto de tudo nesse mercado...

Mas esse pessoal continua se superando a cada ano.

Sempre aparecem coisas novas que não deveriam.

Depois de descer a lenha, vou citar alguns pontos positivos:

Minhas críticas não são em relação à moto, que considero um dos pacotes mais interessantes já lançados, mas à atitude descuidada da empresa e ao uso de macetes condenáveis para abreviar a vida útil do motor e de componentes de desgaste caros — trazendo riscos aos ocupantes — coisas que sempre combato aqui no blog.

Nada contra a moto em si e sua mecânica, nenhum preconceito contra motos chinesas (tive duas e sempre me atenderam muito bem).

Vi a moto segunda-feira de manhã na concessionária e essa última versão com freios hidráulicos combinados está oferecendo um item que prezo muito: 

Segurança na frenagem. 

Freios eficientes salvam vidas, e mais eficiente do que freios a disco dianteiro e traseiro combinados, somente o caríssimo (e para mim, sempre passível de falhar na hora H) freio ABS.

O pacote da Road Chopper é mais bem equipado e tem acabamento superior à Kansas, e somente é comparável na categoria dela à Horizon 150 — que não tem freio traseiro a disco.

Considero o motor uma boa solução técnica pelos motivos que já comentei aqui:

O projeto une a boa característica do filtro de tela de óleo externo de fácil manutenção — cujas vantagens comentei em uma postagem anterior — somada à eficiência do filtro centrífugo interno mais o bom rendimento do comando no cabeçote.

São soluções técnicas que podem assegurar uma longa vida útil — desde que o motor não seja tratado com penúria de óleo lubrificante graças a estratagemas 'espertos' do manual do proprietário...

Os freios e o motor de manutenção fácil de ser feita pelo dono são dois fatores que a colocam em um patamar acima da agora clássica Intruder 125.

Além disso, a Chopper Road 150 está sendo vendida pelo preço de 6.290 realetas sem frete.

Esse é praticamente o mesmo valor cobrado no lançamento da dafra Kansas em 2008 — 6.500 reais — com o valor do dólar sendo quase a metade do que é hoje.

Naquela época eu dizia que nossas motos poderiam ser vendidas pela metade do preço que ainda dariam lucro para as empresas, e parece que essa moto confirma isso.

Se essa tendência de preços em queda continuar, finalmente teremos motos a preço justo neste país — desde que os empresários não fiquem tentados a recuperar a margem de lucro apressando a venda das peças de reposição.

A postagem ficou longa, vou parar por aqui e amanhã eu continuo descendo a lenha.

Vou falar das informações do manual do proprietário que podem colocar você, sua garupa, seu patrimônio e o motor de sua moto em sérios riscos.

Um abraço, menos aos responsáveis pelas pataquadas,

Jefferson

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A moto engasgando e nossa tendência ancestral a pensar primeiro no pior

Quando a moto pifa ou engasga, nós sempre pensamos primeiro na pior possibilidade.

A primeira coisa que vem na cabeça é o conserto mais caro possível, o que pode ser muito ruim se não analisarmos as alternativas menos assustadoras e de custo muito menor...

Isso aconteceu hoje, saí com Jezebel e ela tossiu, engasgou e desmaiou a 100 metros de casa.

Nesses engasgos, ela deu uns estouros feios, e o primeiro pensamento que me veio na cabeça foi a queima do módulo de ignição — faísca fora de hora provoca explosões da gasolina não queimada no escapamento.

O módulo é uma peça mais ou menos cara, mais o trabalho de investigar se era isso mesmo, ir comprar outra igual e trocar, calcante da extremidade inferior da perna no receptáculo flexível de tecido, plástico, papel ou pele animal... algo bastante desanimador.

Como ela se negou a funcionar e eu estava perto de casa, a levei no colo empurrei de volta porque lá estavam as ferramentas e deixei para começar a mexer depois de descansar um pouco.

Passados alguns minutos, antes de começar a testar e desmontar eu tentei a partida novamente, e ela pegou fácil.

E o motor ficou firme, não chegou a morrer nenhuma vez, deu só uma tossidinha.

Conclusão:

Não era módulo de ignição coisa nenhuma.

Na véspera nós tomamos chuva e um pouquinho de água certamente entrou no tanque de combustível.

Como a água é mais pesada que a gasolina, algumas gotas se acumularam no fundo do tanque e na primeira partida foram todas juntas direto para o carburador.

Água não pega fogo (dããã...), e ao encharcar a vela ela mata a faísca, a gasolina não queimada vai para o escapamento e explode por causa do calor, daí os pipocos.

Foi só aquelas poucas gotas de água sumirem da cuba do carburador e a vela secar, Jezebel voltou a ficar 100% como sempre.

Eu iria descobrir isso antes de começar a desmontar qualquer coisa, porque faria testes para ver se havia faísca na vela e confirmar que não era água no combustível.

Mas muita gente sem saber dessas particularidades já providenciaria uma visita ao mecânico preparado para gastar uma graninha... 

Absolutamente sem necessidade, porque é um problema resolvível com custo zero e no máximo uma chave de fenda como explico abaixo.

Jezebel e eu já tomamos muita chuva juntos e isso nunca aconteceu, porque hoje foi diferente?

Porque a junta de borracha da tampa do tanque de combustível com o tempo se deteriora, racha, endurece, envelhece, apodrece, encolhe... a vedação não é mais tão eficiente quanto era sete anos atrás.

Então fica a dica, o primeiro pensamento apavorante que nos vem à cabeça geralmente está errado.

E essa mania de sempre pensar o pior é uma herança dos nossos tatatatatatatatatatatatataravós que viviam nas savanas sonhando em se mudar para uma caverna. Eles se apavoravam por qualquer coisa...
Imagem: Os Croods, Dreamworks.  No meu outro blog, Histórias da Pré-História.

Ao escutar um barulho em uma moita, ao avistar um movimento nas proximidades, o primeiro pensamento era que fosse uma Panthera onca pronta para esfolar um Homo sapiens (ou Mulher sapiens, como disse nossa ex-governanta).


Imagem: Wikipedia
Esta onça aqui do lado.

Essa reação de pensar primeiro no pior era positiva:

Gerava uma descarga de adrenalina muito útil para sair correndo antes de ser esfolado pela onça faminta.

Num tempo em que só os mais espertos sobreviviam, essa descarga de adrenalina podia ser a diferença entre a vida ou a morte. Hummm... não mudou muita coisa.

Então, nos dias atuais, em uma situação como essa...
Imagem: Wikipedia

Esgote as possibilidades e a cuba do carburador para eliminar a água ali contida antes de ser esfolado por um mecânico amigo da onça, no caso esta aqui:

É só soltar aquele parafuso que fica na base da cuba do carburador junto da mangueirinha do ladrão:


Imagem: Carburador de Fan 125
A água acumulada na cuba vai embora, a gasolina boa vem do tanque para ocupar o lugar e aí é só fechar o parafuso, dar partida e ir embora.

Esse é um recurso que toda moto carburada tem, mas nenhum fabricante explica a função daquele parafuso de drenagem nos seus manuais de proprietário.

Ora, por que deixar o cliente resolver um problema tão comum após uma chuva, se ele poderá recorrer à rede de concessionárias para um "reparo" não programado?

Além disso, passar para os consumidores a ideia de que a moto pode estar sujeita à entrada de água no tanque de gasolina e parar de funcionar por essa causa — e por isso já conta com esse recurso para emergências — não é interessante de divulgar por aí porque pode atrapalhar as vendas.

Pois é... marketing tem dessas coisas.

A outra possibilidade de você resolver o problema sozinho sem usar a chave de fenda seria continuar insistindo na partida até a água ir embora e o motor funcionar.

Aí sua preguiça em usar uma ferramenta simples e superfácil de encontrar fará a bateria arriar completamente, o que não seria muito produtivo nem inteligente — você passaria a ter dois problemas e certamente teria de gastar uma grana.

E com esta postagem feliz pelo dindin economizado e cheia de esperança de não precisar comprar um módulo de ignição em curto prazo, aproveito para me despedir de 2016...

O fim do ano está aí, está todo mundo correndo atrás do bom velhinho, é hora de parar de pensar em motos e curtir ainda mais nossas famílias e aqueles momentos bons junto de quem gostamos.

As postagens prometidas não foram esquecidas não, elas estarão sendo pesquisadas e redigidas nesse meio tempo.

Só preciso obter mais algumas provas, mas se tudo correr como parece que está se encaminhando, abrirei o ano com uma matéria muito interessante...

E como resolução de Ano Novo, pretendo que no ano que vem eu me torne menos rabugento, menos depressivo, menos paranóico e menos chato do que fui este ano inteiro e os anteriores... Hummm.... será?

Um Natal maravilhoso a todos os leitores do blog!

Boas Festas, boas Férias, bom Carnaval! (porque a gente sabe que o ano só começa em março...)

Forte abraço natalino e anonovino a todos,

Jeff

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Minha moto anda 1 km e para de funcionar sem motivo, ou não dá partida pela manhã

Edith agora cismou de parar pela manhã a caminho da padoca — por duas vezes ela andou 1 km certinho e apagou, se recusando a funcionar por um bom tempo.

Abri e conferi o tanque, gasolina havia, mas após algumas tentativas de dar partida, nada do motor funcionar.


Pensei nas causas possíveis, e....


Apresento a responsável por tantas motos pararem sem motivo logo depois de sair de casa, ou de terem grande dificuldade de partida pela manhã:
A tampa do tanque de combustível tipo aeronáutica!!!
Jezebel usa tampa de tanque sem frescura tradicional e nunca fez isso, enquanto Edith, com essa tampa tipo aeronáutica, moderna que nem essas aí de cima, está fazendo esse charme...

Qual a causa?


Para a gasolina fluir, é preciso entrar ar no tanque de combustível — e o respiro do tanque é feito principalmente através do miolo da chave, que nas tampas aeronáuticas fica embaixo de uma tampinha.


Se o respiro do tanque fica obstruído, a gasolina do tanque não desce para o(s) carburador(es) e a moto roda somente a distância que a gasolina contida na(s) cuba(s) permitir.


Uma possibilidade que não testei é que essa obstrução também afete as motos com injeção eletrônica, e aí ela apenas não dará partida facilmente, porque não tem cuba(s).


Com o respiro obstruído, ocorre uma pane por falsa falta de combustível do tanque.

Mas por que ocorre essa falsa falta de combustível? 


A poda é que a tampa aeronáutica vem com essa tampinha, e ela é uma obstrução que só fica esperando a hora para acontecer.


A vedação de borracha e aquela tampinha que cobre o miolo da chave, em condições normais, permitem a entrada de ar sem problemas.


Mas... há sempre um mas...


O tanque da moto elimina vapor de gasolina através do respiro da tampa o tempo todo durante o dia — em maior quantidade em dias quentes e quando a moto fica exposta ao sol.


E quando você estaciona a moto ao fim do dia, a gasolina dilatada pelo calor do motor esfria durante a noite e se contrai.

Quando a gasolina se contrai, a diminuição do volume gera um "vácuo" que suga a tampinha contra a abertura do miolo

Com a tampa limpa, nova, não acontece nada, o ar entra no tanque e ocupa o espaço da gasolina que se contraiu.


O problema é que com o tempo se acumula um monte de borra de gasolina evaporada na vedação e no miolo, e essa goma atua como uma cola, uma segunda vedação, que impede parcial ou completamente a entrada de ar no tanque.


Formado esse vácuo, a tampa e a tampinha aderem fortemente ao tanque e ao miolo, impedindo totalmente a entrada de ar e impossibilitando a saída da gasolina pela torneirinha — e desconfio que também complique o funcionamento da bomba de combustível em motos de injeção eletrônica.


O resultado é que essa pane por falsa falta de combustível vai acontecer inúmeras vezes, aparentemente sem motivo.


Você vai até a concessionária e o pessoal nunca encontra a causa, e acabam trocando tudo que não têm direito, às vezes cobrando caro para não resolver um problema tão simples.


Solução:


Limpe periodicamente a borracha de vedação do tanque com um pano — ou desengripante em aerossol, lembrou o Daniel — e mantenha o miolo da chave sempre limpo, e lembre-se de abrir a tampa do tanque e a tampinha do miolo antes de dar partida na moto pela manhã.


Eliminou o vácuo e descolou a goma, o respiro volta a funcionar normalmente pelo resto do dia.


E antes de ficar tentando dar partidas descarregando a bateria ou sair empurrando a moto, como fez um amigo meu, lembre-se de que ela é pesada o motivo de o motor demorar a voltar a funcionar é que leva tempo para a gasolina encher a(s) cuba(s) do(s) carburador(es).


Tenha paciência e espere o tempo suficiente para a gasolina descer, que é sempre mais do que você imagina, e tente dar partida novamente. 


Edith demora quatro vezes mais tempo do que Jezebel, porque as cubas do motor 250 são maiores, e são duas.


Esse tipo de pane é uma situação besta e muito comum, com solução tão fácil, mas que pode incomodar muitos novatos e até um ou outro macaco velho que nunca teve moto com essa tampa modernosa.


Bah, modernidades...

Só complicam.


Bom mesmo era no meu tempo.


Um abraço,


Jeff


PS: Conforme relato do leitor Deivisson Nobre (obrigado pela colaboração!), as motos de injeção eletrônica não apresentam esse problema de partida, mas têm seus macetes: 

Jeff, na minha moto que é injeção eletrônica esse problema não acontece, acredito que só as carburadas que necessitam mais da pressão atmosférica padecem desse mal das tampas aeronáuticas! 

Mas realmente elas entopem, quando a moto era nova e ficava no sol a tampa assoviava liberando a pressão dos gases, hoje isso não ocorre mais.

Às vezes a pressão interna é grande e dá trabalho abrir a tampa, sem falar no miolo da chave que emperra devido à corrosão do etanol, deixando uma goma e um zinabre no miolo.

Valeu, Deivisson!

Só fazendo uma ressalva observada pelo Daniel (passou batida por mim), dificuldade de abrir a tampa não caracteriza pressão interna, mas o contrário, uma depressão ("vácuo").

Se houvesse pressão interna, a tampa teria a tendência de abrir. 

Mas como a gasolina enviada pela bomba ao motor não foi substituída pelo ar atmosférico, este pressiona a tampa contra a sede, dificultando a abertura.

Essa confusão ocorre porque estamos acostumados a associar pressão com a dificuldade de abrir uma panela de pressão.

Mas a tampa da panela de pressão fica encaixada por dentro da panela, enquanto a tampa do tanque de gasolina fica simplesmente apoiada sobre o bocal.

Ou seja, o sistema de fechamento de uma é invertido um relação à da outra.

A pressão da panela atua de dentro para fora, e a pressão atmosférica atua de fora para dentro sobre o tanque de combustível.

Um abraço,


Jeff

domingo, 26 de julho de 2015

Qual a importância de lubrificar os cabos de comando?

A manutenção correta dos cabos de comando, com a lubrificação e substituição preventiva periódica, diminui a chance de coisas como estas:



Casey Stoner, campeão pela Ducati em 2007 e o cara que obrigou a lenda Valentino Rossi a dar uma de Prost (= jogar sujo) para ganhar uma corrida, protagonizou este acidente por causa do acelerador travado.



O blog do uol diz que foi o "regulador de pressão"... E agora, em quem será que eu devo acreditar?

Bom, vou ficar com a versão do Casey porque até onde eu sei, o motor dele não é turbinado.

Já a throttle grip (que nós chamamos de manopla do acelerador) controla a válvula borboleta daquilo que os gringos chamam de throttle valve (a válvula de aceleração — eles não são muito criativos para nomes)

E apesar de nos motores superalimentados a válvula de aceleração controlar o fluxo de ar para o motor, o que poderia ser interpretado com muito boa vontade como um regulador de pressão, mas não é assim que essas coisas são chamadas.

O verdadeiro regulador de pressão da admissão é a válvula limitadora de pressão do turbo, que até onde eu vejo, não teria como causar o travamento do motor em alta rotação. Se a moto fosse turbinada... mas não acompanho nem a Fórmula 1, quanto mais motovelocidade. 

O Casey Stoner acabou quebrando só a escápula (o grande osso chato do ombro) e a tíbia (lá vem o Tíbio e o Perôniooo...)

Teve sorte, porque a moto quase caiu em cima dele.

Um stuck throttle é um acelerador emperrado, e ele pode emperrar na manopla, no cabo ou na própria válvula de aceleração. 

A fonte mais provável de emperramento é o cabo desgastado, mas no caso dele pode ter sido um problema na montagem da válvula, porque uma moto de competição não teria um cabo desgastado, a menos que estejam contratando estagiários.

Além disso, pode ser que essa moto use acelerador sem cabo mecânico, totalmente eletrônico, e aí pode ser uma pane elétrica. 

Mas para nós, humanos comuns, o cabo do acelerador nada mais é do que um arame trançado que corre dentro de uma capa de plástico emborrachada, com um encaixe na ponta da manopla e outro encaixe na ponta do carburador / válvula de aceleração.

Se algum arame do cabo se soltar e começar a desfiar, ele poderá enroscar dentro da capa e impedir que a válvula borboleta / pistonete ou a própria manopla do acelerador retorne para a posição de descanso.

Ou seja, você abre o acelerador e não consegue fechar, porque mesmo girando a manopla, o cabo fica travado e mantém a válvula de aceleração que alimenta o motor totalmente aberta.

E com o motor acelerado, a moto não tem mais freio motor. 

Ela segue desembestada e você vai junto, a menos que não entre em pânico, acione a embreagem e desligue o corta-corrente. 

Se não fizer isso, a rotação do motor irá para o espaço e seu motor entrará na faixa vermelha.

Enquanto a embreagem permanecer acoplada, os freios não terão força suficiente para estancar a moto.

Se você estiver em uma competição fazendo as curvas no limite, dificilmente terá tempo de controlar a moto antes da próxima curva e acabará comprando um belo terreno em grande estilo.

O melhor a fazer para não passar sustos com o acelerador é verificar periodicamente a condição do(s) cabo(s) do acelerador (algumas motos têm dois) e trocá-lo(s) antes que representem uma ameaça.

A mesma coisa para o cabo da embreagem, se bem que em caso de rompimento é possível passar as marchas sem necessidade da embreagem.

E nunca ouvi falar de cabo da embreagem enroscado, mas você tem fácil acesso à alavanca de acionamento pelo lado de fora do motor.

Os cabos do acelerador e da embreagem são baratos, vale a pena trocá-los preventivamente a cada 20 ou 25 mil km. Mais detalhes nesta postagem

O último cabo que coloquei na Jezebel já tem uns 30 mil km, já passou da hora de trocar.

Como não gosto de passar por situações de risco evitáveis, a troca do cabo acabou de entrar na minha lista de prioridades máximas.

Mais ou menos em 6º lugar.

Um abraço,

Jeff